A Condessa Tosquiada

Texto extraído da minha história sobre D. Afonso Henriques, que por ser longo não o postei.

- Meus senhores desculpem a interrupção, mas há uma coisa que me entristece ou melhor duas. - Interrompeu o Rui.

- Ó homem de Deus, qual é a causa da tua tristeza? – Perguntou o Anselmo, surpreendido com esta saída.

- Uma, é eu estar já há um bom bocado sem falar e outra é a necessidade de contar mais uma de D. Afonso Henriques.

- Aposto que tem a ver com saias. – Exclamou Felipe.

- Até parece que és bruxo.- Riu, Rui.

- Porque será? – Ironizou, Anselmo.

- Posso contar ou não?

Perante o riso dos amigos em sinal de concordância, o Rui lá se abalançou.

- Sendo D. Afonso Henriques já rei de Portugal, foi visitar o conde D. Gonçalo de Sousa à sua quinta de Ulhão. Enquanto o anfitrião preparava o jantar, o rei Conquistador, fazia amor com a condessa. O marido surpreendeu-os. Revoltado com atitude do rei, a mão deslizou- lhe para o punhal, tal ignomínia só com sangue. Cheio de ódio, no entanto, vacilou, era o Rei, era o seu Rei. Com a voz embargada limitou-se a dizer: “Levantai-vos que a comida já está pronta”.

Enquanto comiam o conde mandou tosquiar a mulher e devolveu-a aos pais, montada de costas numa azémola. D. Afonso Henriques não escondeu a sua reprovação e dirigindo-se para o conde, afirmou: “D. Gonçalo, por menos que isto, um adiantado de meu avô (governador de província) cegou sete condes.” Retorquiu o conde: “Cegou-os a torto e morreu por isso”. O Rei calou-se perante esta ameaça velada. Por ser conhecedor da valentia do anfitrião ou por saber no desagrado que poderia incorrer perante a nobreza se tomasse a peito a afronta, depois do que fez.

O silêncio reinante na mesa, mostrava bem como este facto cativou os amigos, mas foi o coronel que, sem se conter mais, exclamou:

- Bravo meu jovem, bravo…Não sei se esse facto se passou ou não, mas é de todo credível, porque revela a prepotência dos mais poderosos, neste caso o rei. O conde não viu outra maneira de lavar a sua honra senão agir como agiu, embora com a alma dilacerada pela falta de nobreza do seu senhor.

- Tem razão senhor coronel, - concorda Anselmo – mas a dama, teria de facto alguma culpa, quando nem o marido se conseguiu opor? Provavelmente não.

Lorde
Enviado por Lorde em 06/03/2013
Reeditado em 07/03/2013
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