E a lembrança ficou
Janeiro, ano de 1954, Um adeus à fazenda da Floresta, às densas matas, às roças de milho, terreiros de café, açudes, nossa casinha branca com quintais ao redor, e ao nosso velho cão Colipe que ficou para trás. Chegamos em Governador Valadares. Na boléia de um velho caminhão, eu com meus seis anos, meus pais com quatro filhos. Entre os tonéis de cachaça, que era a carga principal do caminhão, uma mala de ferramentas, uma máquina de costura, uma mala de roupa, e dentro dela, uma nota de 1000,00, mil não sei o que, sei que era resultado da venda de uma porca, presente da minha madrinha.
Trouxeram também uma grande vontade de vencer! E venceram. Conseguiram fazer mais cinco filhos e uma luta ferrenha para sobrevivermos. Meu pai numa marcenaria, do Sr. Libério. Minha mãe se revesando entre amamentar uma criança, com outra agarrada à sua saia, o tanque, o fogão e a máquina de costura.
Na época, pouco eu podia fazer, mas logo, logo, Valadares se tornou pequena para mim. Entregava costuras, fazia mandados, ajudava os vizinhos, vendia laranjas, matava borboletas, jogava finquinho, fazia cozinhadinhas e ainda pulava amarelinha.
Aí conheci os nossos carnavais na Lira Trinta de Janeiro, os famosos carros alegóricos, as oficinas de mica, a Zona Boêmia tão famosa na época. O Sr. Geraldo que enchia seu jipe, ele e meu pai vestidos de mulher desfilando pela avenida afora. Conheci uma doida chamada Papuda, o Sr. Dimas do Bar, o Sr. João pai do Ademir cunha, flamenguista doente, tanto quanto meu pai. Uma benzedeira dona Georgina, um conjunto formado pelo Tio Alcemimo, me lembro o nome de um dos integrantes, o Nélio do bairro São Geraldo, o farmacêutico Sr. Miguel, um doutor chamado Delfino. Lembro-me da tentativa do Zé Maria Assumpção em ganhar uma eleição, do cineminha da rua do Sr. Álvaro, do carro preto do Zé Hilário anunciando:" NOTA DE FALECIMENTO". do Sr. Caburé, e dos programas de rádio do Zé Sertanejo. A Avenida Minas Gerais com canteiros no meio, de uma Ibituruna verdejante, a primeira televisão da rua, na casa do Sr. João Lopes, uma copa imensa aberta à criançada da rua.
Muitos já se foram, como os carnavais, a Zona Boêmia, as oficinas de mica, alguns amigos, e com eles o nosso sonho de GV se tornar um grande pólo industrial. O descaso com nossa cidade, continua... Olé!..Se lembram do Olé!!!