Uma colcha branca (suspiros de uma viúva...)
 
O Júlio  se foi. Não me abandonou não, ele me amava muito. Ele foi para o outro lado. Dá até um nó na garganta quando falo isso. A casa ainda tem seu cheiro, seus traços, acho que a alma dele ainda está por aqui.
Leio, arrumo as coisas cá e lá, tento dar um novo jeito naquilo que não tem jeito. Às vezes dou um soluço, daqueles bem fundos, assim do nada, sem avisar.
Já faz algum tempo e ainda coloco a mesma colcha na cama. A mesma que estava lá, naquele dia fatídico, quando, sem aviso prévio, seu coração resolveu parar. É linda, branca, toda trabalhada. Ele olhava para ela e falava assim: “Gosto da sua colcha de retalhos...” Eu ficava zangada e replicava: “Seu tonto,  esta colcha não é de retalhos, não...”
-Mas é tão bom de falar...toda colcha devia ser de retalhos...
E ria. Aquele sorriso gostoso, debochado,  que eu não tenho mais.
É por isso que não troco mais a colcha. Qualquer dia destes, quem sabe, Deus faz um milagre, e ele vem me agarrando por trás, beijando meu pescoço, falando da minha colcha...Talvez eu consiga juntar, de novo,  os retalhos de minha vida...
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