APOLOGIA DO SILÊNCIO
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
O pós-carnaval é um tempo propício para uma apologia ao silêncio. Mais que uma lei escrita, a lei do silêncio é uma lei gravada nos nossos corações, na medida de nossa capacidade de reflexão e de autocrítica, e de nosso nível de educação. Numa sociedade de vida agitada, tumultuada, sonhe-se com o silêncio numa biblioteca, numa igreja, num cinema, num concerto. Respeite-se o silêncio de um hospital.
O silêncio é interiorização do ser pensante em busca de seu próprio significado. Inclusive no silêncio do deserto. Desde que não seja um deserto de pessoas. “Silêncio entre prece e prece” do desassossegado Fernando Pessoa. Em música, as notas representam os sons e as pausas, silêncios. Graves ou agudos, breves ou longos, os silêncios são a razão de ser dos sons numa sinfonia e contribuem para realçar o conjunto. De acordo com Medeiros e Albuquerque, os silêncios valem e se classificam pelo que veio antes e pelo que há de vir depois deles. “Silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é puro ruído entre dois silêncios insondáveis”. Isso, de Isabel Allende, em sua apologia ao silêncio. E de Mário Quintana: “Teus silêncios são pausas musicais”.
Para a sabedoria popular, na companhia de estranha gente o silêncio é prudente e, se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Para Goethe, a paz reina nas alturas. O que depende de subir a montanha, ao horizonte de uma cumeeira ou de um mirante. Depende de ouvir os sons da natureza: um riacho que murmure, o vento que cicia, folhas que farfalham, uma praia deserta que convida à meditação. De ouvir a resposta do próprio silêncio, silêncio recolhido, falante, inebriante. Quem tem medo do silêncio talvez tenha medo de si mesmo. Uma espécie de pavor do eco que vem do fundo da própria caverna onde se refugiam contradições, carências, faltas, omissões. Para Lao-tsé, quanto mais falamos no universo, menos o compreendemos. Melhor é auscultá-lo. Em silêncio.