O dia da Mulher
“Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipátia. Com uma sociedade conservadora a respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciências, e devido a Alexandria estar sob o domínio romano, após o assassinato de Hipátia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época.” Carl Segan- “Cosmos”
Mais uma vez me repito, para minha satisfação, e republico minha homenagem à mulher que fiz no ano passado. É preciso repetir, para que a mensagem fique gravada em corações e mentes. Vejo, agora, que o mal do mundo continua a ser a ignorância. Pelo exemplo da antiguidade, relatado pelo astrônomo, já falecido, Carl Segan, é urgente a mudança de mentalidade. O nosso espírito da época não permitiria mais o acontecimento trágico com Hipátia, que mencionei no ano passado, mas esquecido do nome dela, agora rediviva pelo comentário de Carl Segan. Repito com prazer a crônica do ano passado, com retiradas de alguns trechos e acréscimos de outros:
“No dia internacional da mulher não gostaria de ficar no “lugar comum”, fazendo aqueles elogios costumeiros à mulher, quase que santificando-a, como uma espécie de “mea culpa” pelo incrível massacre que os homens submeteram a mulher desde que o mundo é mundo. Foi sempre tratada como inferior. Essa discriminação odiosa, produto da cultura, ainda chega até nossos dias, felizmente, não mais acintosa, e nem ela é mais vista como inferior. Assim como a escravidão foi uma terrível mancha da humanidade, a discriminação das mulheres também foi. Não consigo me lembrar do nome de uma mulher grega ou romana, da Antiguidade, que por ter feito uma descoberta científica importante foi morta a pauladas por uma turma de ignorantes. Há também a história de Agnódice, que também viveu na Grécia antiga, tendo aprendido a profissão de médica, às escondidas, pois só os homens podiam ser médicos. Teve que se travestir de homem para exercer com segurança sua profissão. Destacou-se tanto, que os homens sentiram ciúmes e a acusaram de prática de atos libidinosos com suas pacientes. Agnódice, diante do Juiz despiu-se, para mostrar que era mulher, e foi absolvida da falsa acusação. E graças a ela, foi promulgada uma lei dando o direito às mulheres de praticar a Medicina na Grécia.
Desconfia-se, e pela minha experiência de vida, tenho certeza, que muitos trabalhos científicos antigos, assinados sempre por um homem, na verdade foram feitos por mulheres.
Só esses fatos já me fazem corar de vergonha diante da mulher. Ainda vemos hoje uma parte significativa dos homens se sentindo proprietários das mulheres. E, em pleno século 21, os crimes passionais em que os homens matam suas mulheres, ainda acontecem em grande número.
Talvez seja por isso, que, nós homens, inconscientemente, desejamos tanto homenagear a mulher.
E aí caímos talvez no exagero de vê-la como santa e a colocamos num pedestal. Não é preciso chegar a tanto!
Seria melhor que não precisássemos desse dia festivo, nem para a mulher, nem para o homem. Com certeza, no futuro, isto tudo será visto como produto da teimosa ignorância humana. E as gerações lá no futuro custarão a acreditar que já fomos assim...
Por enquanto, lamentando muito tudo que aconteceu com a mulher, deixo registrada a minha admiração por elas . A mulher mãe, freira, cientista, esportista, motorista, funcionária, "free lancer", policial, empregada doméstica, seringueira, enfermeira, a mulher moderna preocupada com o meio ambiente. Enfim, a mulher em geral. E gostaria que todas conhecessem essa história de massacre por que passaram, não para sentir ódio, se vingar e outras tolices mais. Mas para perceber que a história da humanidade é uma história de muita ignorância. E de muito sangue também... Dentre tantas mulheres feministas do Brasil (recordo-me sempre de Chiquinha Gonzaga), poderíamos nos concentrar, nessa homenagem às mulheres, para ficarmos num exemplo do Brasil, na figura da Princesa Leopoldina, austríaca, erudita, cientista, e esposa de D. Pedro I. Ela, poucos sabem, foi a verdadeira artífice da nossa independência. Ela que forçou D. Pedro a proclamar a independência, tendo, inclusive, escolhido as cores verde e amarelo da nossa bandeira. E com esses conhecimentos, espero que a mulher se torne ainda mais sábia do que é.
Nós homens não precisamos ser perfeitos para lidar com a mulher de hoje. Dou essa alerta para os meus amigos homens para que não sofram como aquele homem perfeito, que por isso mesmo não agradava à sua mulher. Ser perfeito não tem nada a ver com amor. Fiquem calmos, meus amigos e amigas, não vou publicar nenhum poema de amor... Confesso que seria o mínimo que poderia fazer por elas... Não queira ser perfeito, meu amigo leitor, não seja um santo, seja amado por seus defeitos. Desconfio que minhas amigas gostam de mim por causa dos meus defeitos. O defeito é necessário... Afirmo que meus erros não são tão ruins assim, e tenho o apoio amigo do Seminale, que poderá confirmar isso.
Espero ter agradado às mulheres com esse meu defeito de mudar de assunto nas minhas crônicas, essas fugas de pensamento... Mas a intenção está bem clara, saudar efusivamente às mulheres do mundo, no dia Internacional da Mulher, o dia 08 de março. Agradecer a elas todas, que sempre me protegeram, as da minha vida. Nunca tive problemas com os homens, felizmente. Mas foram as mulheres que mais me marcaram, marcas boas e importantes para minha vida, apesar de algumas marcas não tão boas... mas que mesmo assim serviram para o meu crescimento. E terminaria assim: Mulheres, unam-se e tomem de assalto todos os Governos. Só assim o mundo será salvo!”