Eu queria ser
Um homem que vive na cidade muito movimentada cheio de muito trabalho, trânsito, stress, pára um pouco para pensar na vida, pois está à beira de um ataque de nervos.
Daí observa por horas a natureza e viu um passarinho e pensou: se eu pudesse escolher que bicho gostaria de ser, um passarinho é o que eu queria ser. Que livre voa, no alto das árvores e me esconder nas sombras das folhas e poder ficar em um galho tão fino quanto a minha perninha de passarinho, que legal não é?!
Eu queria ver os rios cheios ou não mais que se estivessem limpos mataria a minha sede. Se estivesse poluídos eu mesmo passarinho tinha que aprender a rezar para não morrer envenenado com a água suja, e voando ainda mais alto eu poderia ver o verde das matas, que lindo! Mesmo que avistando uma falha lá no meio que o homem chama de desmatamento e que assustam os outros bichos como eu.
Mesmo assim um passarinho eu queria ser (e insistiu o homem em continuar pensando) – Ah! Como eu queria ser um passarinho! Apesar de ter vida curta e predadores sempre alerta. Quando escapasse das garras de um gavião, outras vezes dos alçapões e que alívio pelo menos desta vez.
E dá até para ouvir o tic... Tac do coraçãozinho que quase sai pela boca do coitadinho. Que mesmo engaiolado, atrás de finas grades difícieis de serem quebradas, pois tão frágil eu mal teria forças para os pássaros são gaiolas, para os felinos, jaulas, e para os homens cadeia, tudo são grades que nos impedem de viver ou de voar.
Ainda assim, um passarinho eu queria ser. Na minha gaiola eu cantaria um canto triste e alegraria quem ouvisse.
Nem com um lindo canto o mais alto que eu agüentasse eu conseguisse abrir a portinha.
Mesmo assim eu cantaria, cantaria e cantaria... Um canto triste como o canto de todos os pássaros engaiolados.
Cantaria até a morte, como é o fim de todos os pássaros.
Mesmo assim, um passarinho eu ainda queria ser, de qualquer jeito.
Obs.: Ele vê do nada em sua frente uma gaiola e um passarinho com um olhinho que brilhava, parecia pedir socorro. Ele então abriu a portinha e o passarinho se mandou...