UMA AMBULÂNCIA
UMA AMBULÂNCIA
(Crônica de Carlos Freitas)
Tarde de uma amena quinta feira qualquer. Voltava para casa... No meio do caminho não tinha uma pedra... Tinha um Motel no meio do caminho! Meus olhos presenciam algo inusitado: Uma ambulância que dele saia. Implacável, insensível, alheia ao que de grave pudesse ter ocorrido, minha imaginação começa a cutucar-me: - Prato cheio hein? Não vai escrever sobre isso? Vai passar em branco? Não acredito! Estou desconhecendo-o!
Fraco, e escravo que sou das palavras meditarei então, sobre a sustentabilidade intrínseca, implícita e explícita de uma ambulância saindo de um motel em plenas duas horas da tarde, como já disse: de uma amena quinta- feira qualquer!
... Celso – paramédico. Bárbara – paramédica. Parceiros, no atendimento emergencial nessa louca megalópole, que é a nossa cidade. Juntos, dedicam suas vidas na cura das feridas, dos traumas do corpo e da alma de uma infinidade de pessoas. Naquela tarde decidiram que curariam as dores e feridas dos seus corações. Atenderiam aos anseios do que seus corpos suplicavam. Após tantas primaveras, verões, outonos e invernos de convivência, confidências e intimidades, respiravam o mesmo desejo! E ali se abrigaram para saciá-los... Consumi-los! Era uma das possibilidades!
Uma segunda possibilidade sugeria que houvesse ocorrido um acidente de trabalho. Algum funcionário do motel passara mal, se acidentara, e lá estavam os paladinos do bem Celso e Bárbara para ministrar os primeiros socorros e levá-lo para um hospital.
A terceira e última possibilidade era...
... Final de expediente numa empresa. Ricardo, confiante e embalado pelo relacionamento mais intimo e amiúde com Alexandra, colega de trabalho, a convida para um happy hour a dois. O sorriso espontâneo nos lábios carnosos e sensuais, que ilumina seu rosto sereno - aprova o convite.
Uma bela e atraente mulher. Clara, cabelos ruivos, pele macia, corpo esguio e elegante. ... No ambiente à meia luz, trocam confidências, deixando no ar um clima de cumplicidade. Do piano ao fundo, ecoam cálidas notas de uma música envolvente. Sentem-se dominados por aliciante desejo. – Poderíamos nos encontrar uma segunda vez Alexandra? – pergunta Ricardo titubeante. - Estaria perdendo o bom senso, e avançando o sinal antes da hora? – se pergunta. Surpreendendo-o, Alexandra assente sem hesitar. Ela é a imagem da paixão materializada, escancarada, sem pudor! Batimentos cardíacos descompassados.
Uma atração incontrolável os domina... Beijam-se com ardor e volúpia... Mas, a noite madrasta enforcara-se nos braços da madrugada! Ao deixá-la em casa, já era certo o reencontro para na tarde do dia seguinte. Horário não era problema. Trabalhavam apenas no período da manhã.
Pontualmente, na hora combinada Ricardo vai ao seu encontro. Juntos, partem em busca dos prazeres, e emoções fantasiadas, sonhadas, ansiadas e desejadas na noite anterior. Na suíte, impacientes se abraçam num ímpeto fremente. Seus corpos agora é um só corpo. Beijam-se com ardor. As roupas... Vão ficando pelo chão. As carícias... Intensificando. As mãos, ágeis, acariciam e despertam prazeres em cascata... Densamente envolvidos, veem-se dominados por um louco e ritmado frenesi.
Ricardo sente-se como se fora Apolo, que vê à sua frente, a amada Dafne, a qual contrariando a Mitologia, se recusara a transformar-se num pé de louro, cedendo aos seus encantos. É chegada a hora de conquistá-la definitivamente – pensou Ricardo! Cortejando-a amorosamente, quer levá-la ao Monte Olimpo. Senti-la, vê-la poderosa ao lado de Zeus, ele naturalmente, antes que a magia se esvaeça. Entregar-se-iam à luxúria... Ao prazer final. Sugere a Alexandra, toda nua, que fique de pé sobre a cama. Far-lhe-ia voluptuosos carinhos! Riem juntos. Beijam-se mais vezes, intensamente... E lá está ela sobre a cama - ansiosa. Ricardo se ajoelha à sua frente. Com sua língua, inicia as carícias nos róseos e intumescidos mamilos. Lentamente desce... Alcança o sexo. Gradualmente... Com intensidade! No gemido de gozo, prazer e êxtase que ecoou pela suíte, Alexandra pende o tronco para trás. Ricardo não consegue segurá-la... E o impensável acontece: ambos vão ao chão. Ela bate a cabeça... Perde os sentidos! Possibilidades... Meras possibilidades!