CARTA DE UMA MANGUEIRA ÁS CRIANÇAS DA CIDADE

Crianças!

Estou me dirigindo a todas vocês porque nunca se sabe se vamos nos encontrar novamente. Mas quero deixar aqui antecipadamente a saudade que estou sentindo e vou sentir de todas vocês. Quando me visitavam eram barulhentas, mas nunca me incomodei com isso porque tudo era manifestação de prazer, alegria e felicidade. Só ficava aborrecida quando alguém atirava pedaços de pau ou pedras para apanhar meus frutos. Daí um cidadão que tudo sabia sobre crianças e sentia sua alegria, trouxe uma vara de bambu com um gancho na ponta e os orientou a apanhar somente os frutos maduros. Esse instrumento ficou dependurado em um de meus galhos e não mais fiquei aborrecida.

Mas por que esta carta com sinais de despedida? Acontece que estou sendo ameaçada de morte. Alguns cidadãos temem que marginais se escondam em minha ramada e fiquem à espreita para praticar assaltos. Fico imaginando a catástrofe se essa moda pega. Já pensou quantas árvores, colegas minhas, também serão sacrificadas? Os Caipiras costumam classificar esse tipo de medida preventiva de: “... matar a vaca pra se livrar dos carrapatos...” Fico mais preocupada porque de repente surge uma campanha na TV contra o efeito estufa e aquecimento global e os mesmos cidadãos que pediram nosso fim venham encabeçar o abaixo assinado contra esse fenômeno que ameaça nosso planeta. Mas isso é muito comum entre os HOMENS que resolvem agir sem pensar no que estão fazendo e quais serão suas consequências. Conversei com colegas minhas, Ipês, Oitis, Sibipirunas e outras e me disseram que nada temem porque são protegidas pelo IBAMA. Como são Nativas não podem ser condenadas à morte. Será preciso, no entanto, comunicar aos marginais esse detalhe. Que escolham (ou não escolham) apenas espécies exóticas para levar a bom cabo seus intentos. Enfim vamos esperar até o próximo verão para saber como as coisas ficarão. Pretendo continuar me comunicando com vocês, sempre através de cartas. Se houver ausências delas é provável que o pior tenha acontecido. Então minhas amigas nativas terão a infeliz incumbência de comunicar-lhes, sempre através de cartas..

Um saudoso abraço da sua amiga Mangueira.(OLDACK/21/02/013).