O jeito mafioso de se inspirar

Tinha acabado de sair do cinema, foi ver o filme caça aos gansteres, ficou impressionado com a atuação do Sean Penn e mais ainda com a bela Emma Stone. Na sua cabeça decidiu, essa tal de Emma é a minha professora!

Pegou o metro da linha amarela e ficou imaginando: ruiva, alta, independente e linda. Ali, no meio daquela multidão de suados, começou a recriar cenas em que ele e ela eram os personagens principais, o filme se passava na grande metrópole de Los Angeles mais sua cabeça já o levava para praias e cachoeiras, fontes de prazeres naturais e perfeitos.

Ora essa, de caso com a professora? Seu superego o golpeava fortemente, sua moral era como a sirene de uma ambulância que cruza as ruas levando um sopro de esperança, alertava a todo o momento sobre esse caso impossível. Mas seu id era forte, selvagem, e nessa batalha lutava sem dó, - deixe-me sonhar e ganhar forças para tentar tornar esse sonho realidade.

Muito bem, o ID falou mais alto.

Naquela mesma noite teria aula com a diva, era o momento certo pra investir (moderno).

Uma hora e quarenta minutos de viagem, todo esse tempo ganhando força e planejando suas estratégias, como seria a abordagem e quais palavras usaria.

Passou em casa para tomar uma ducha, chegar cheirando a vira-lata não agradaria a dama. Banho, perfume, gel, tudo pronto!

No meio do caminho comprou uma flor, impressionante como os filmes nos inspiram.

Chegou à sala de aula, percebeu que estava cheia e que ela já estava lá, nesse momento a vergonha ficou em modo ON e rapidamente tratou de se livrar da flor.

Prestou atenção em tudo, principalmente na sua musa.

Solange era uma mulher excepcional, ao mesmo tempo em que tinha o jeito fino tinha os traços fortes , de raça, aqueles de quem não desiste fácil. Dava aula ali à noite e em outra instituição durante o dia, na parte da manhã cuidava da mãe e aos finais de semana se aventurava no artesanato, era viciada em trabalhos manuais. Tinha namorado duas vezes na vida, em uma teve o azar de ser traída e na outra escolheu ficar com o artesanato, pois lhe dava muito mais prazer.

Quando a aula acabou, decidiu se aproximar dela, rápido claro, não tinha tempo a perder. Quando foi pronunciar a primeira palavra ela o cortou e disse:

- Oi, vai querer carona pra casa hoje?

- Eu? Annnnnnnn, claro, vou sim. (tremi e suei nas mãos, fui pego de surpresa, cheguei até a gaguejar. Um gangster não deixaria isso acontecer.

No carro.

- Nossa você está perfumado ein, aposto que é pra alguém especial, até se aventurou a usar gel.

- Pois é, vi um filme bem legal hoje e achei que deveria tentar algo diferente, mudar e arriscar mais sabe.

- Olha só, você faz bem em pensar assim, às vezes temos que arriscar mesmo, eu falo por mim, se quando eu tinha a sua idade tivesse corrido atrás da profissão que meu pai tanto dizia para cursar, hoje não estaria fazendo o que eu gosto.

- E você realmente gosta disso não é?

Chegamos em casa e ela continuou:

- Claro que gosto. Olha, eu sei que essa não é nenhuma maravilha sabe, não ganho tão bem, tenho muito trabalho extra, mas só de ficar perto de alunos como você que se importam que prestam atenção, dão importância ao que estou tentando passar, já me sinto satisfeita e realizada, até mais do que com meu artesanato que tanto faço e refaço. Mas me conta, pra quem foi essa produção toda?

Ela não percebia, mas enquanto falava suas mãos gesticulavam, passava elas entre o pescoço, na nuca, fechava os olhos, trançava os pés. Já era tarde da noite, o carro escuro, na porta de sua casa, minha atriz, minha professora, minha vizinha, sem perceber me dava indicações que desejava algo, sentia isso em suas palavras. Eu, um rapaz de 20 anos, frente a essa senhorita com seus 34, satisfeita profissionalmente, insatisfeita pessoalmente, hoje é dia de arriscar, hoje é dia de ser ousado, o amanhã não me importa, desse momento em diante, vivo o agora e nada mais.

- Fiz essa produção toda para impressionar você, na verdade até comprei uma rosa mas por algum motivo que não sei explicar, descartei assim que entrei na sala, faz um certo tempo quero te falar que você é minha musa, minha atriz, minha professora, sua atuação me conquista fortemente e hoje estou disposto a lhe falar tudo. Sim eu acho que você é muito talentosa, até na sua profissão. Em outra você seria boa também, o problema é ficaria longe de mim e isso eu não suporto. Da minha janela vejo a sua janela, fico imaginando o que se passa ali dentro, o que você faz, como dorme, como acorda, como são seus chinelos. Quando olho nos seus olhos, consigo ver a falta de alguma coisa que você bem no fundo deseja já faz um tempo.

Euforia, estava explodindo por dentro. Essa dose de coragem foi muito alta! Ela estava quieta, me olhava, não tinha expressão, a eternidade não se compara aquele momento.

Então ela disse:

- Você quer entrar e tomar um café? Posso te ensinar a usar melhor esse gel, subimos pro meu quarto e ai eu te mostro meus chinelos rs.

;)

Leonardo Laprano
Enviado por Leonardo Laprano em 04/03/2013
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