AMAZONAS PODE VOLTAR A SER O ESTADO DO "JÁ TEVE..!"

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O inebriante sucesso econômico da Zona Franca, mas sem investimentos sociais em melhoria de vida ou em pesquisas para a utilização de produtos da floresta na produção de remédios, perfumes etc., poderá o transformar o Amazonas, no Estado do “já teve” e virar um novo “porto de lenha” não mais de Liverpool, mas no da estupidez política pela falta de visão de futuro, como diz a música composta/cantada por Torrinho e o jornalista e poeta Aldísio Filgueiras, gravada e regravada por cantores regionais e hoje transformada em uma espécie de “hino não oficial do Amazonas”. A música “Porto de Lenha” fala sobre um período que vai da facilidade do dinheiro do látex à “Ilusão do Fausto”, do livro da professora e pesquisadora da Ufam, Edinéia Mascarenha Dias.

Amazonas é o Estado “do já teve”, sempre na frente dos demais Estados – energia elétrica, bondes, a riqueza da borracha ou a “Ilusão do Fausto” (Valer, 1999 - 189 páginas), de acordo com a professora da UFAM, Edinéia Mascarenha Dias, impressionante e preciso ensaio crítico do período compreendido entre de 1890 e 1920, abordando o surto de urbanização da cidade graças à economia da borracha, dividindo-o em dois momentos da história: – “A cidade do Fausto” e a “Falência do Fausto”. Depois desse inebriante sucesso econômico, o Estado amargou profundos outros anos de bancarrota e desânimo.

No livro, a professora discute o processo de exclusão social vivido por setores a população, inclusive pelas pessoas mais pobres de fortuna que eram banidos para bairros distantes só para “inglês ver” que Manaus era uma cidade linda, caiada, com casas cobertas com telhas de barro. Não havia mendigos, pedintes e pobres porque todos viviam na periferia da cidade, em bairros distantes recém criados para recebê-los. Os ingleses viviam em uma espécie de gueto, confinados em um quadrilátero pequeno e não conheciam o resto da cidade, até porque não lhes interessava ter contato com a “ralé”, formada por cearenses e os pobres nordestinos que lhes serviam de mão-de-obra escrava, muitas vezes!

Agora, de forma discreta e quase sem festas, o Amazonas comemora os 46 anos de existência perene da ZFM que, ao longo dos anos, arrecadou milhões e milhões de dólares em pagamento de impostos mas, sem que isso, tenha representado melhorias na qualidade de vida, com investimentos públicos, gerando retorno social em forma de mais habitação, segurança pública, saúde ou saneamento, essenciais para uma melhoria na qualidade de vida da população. Só entendo riqueza socialmente justa, se todos tiverem acesso a ela de forma equitativa, com a aplicação de impostos arrecadados nesses setores sociais imprescindíveis. Ah, isso sim!

E tudo está se repetindo como na época da “Ilusão do Fausto” em forma de embelezamento da capital, com a “destruição dos igarapés” pelo Prosamim, de belíssimos balneários antigos, mas inesquecíveis como os do Parque 10, a Cachoeira Grande e a Pequena do “Tarumã”, além de desaparecimento de todos os balneários que existiam e funcionavam aproveitando as águas brancas e despoluídas do Igarapé do Mindu. Hoje, nada mais existe.

Manaus poderia ser hoje mais uma nova Veneza brasileira, se a cidade tivesse preservado seus igarapés e os governos estaduais e municipais que se sucederam pós Arthur Reis, tivessem trabalhado unidos, impedindo novas invasões das águas. Bastaria, para isso, decisão e determinação política de querer fazer como o fez o governador visionário do passado que teve a coragem de impedir a continuidade da “cidade flutuante”, iniciada em 1967 e que tomou “quase todas as águas do litoral da capital amazonense, se tornando uma das mais importantes e originais expressões de viveres urbanos” como registram os livros “Cidade Flutuante” de Manaus: rediscutindo conceitos” do pesquisador Leno José de Souza, publicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em revista indexada. e “Assistência aos Desassistidos de Manaus”, TCC da professora da Ufam Iraíldes Caldas Torres”, citado no livro O CAMINHO NÃO PERCORRIDO – A trajetória dos assistentes sociais masculinos em Manaus, de Carlos Costa (Imprensa Oficial, 1986).

Segundo registros históricos, a cidade flutuante fora formada por imigrantes nordestinos (op cit. Iraildes Torres Caldas) depois da falência do ciclo econômico da borracha, mas também podiam ser encontrados ingleses, franceses, judeus, gregos, portugueses, italianos e espanhóis que desenvolviam ofício de comerciantes. Contudo para receber as pessoas que residiam na “cidade flutuante”, o governador teve que praticamente abrir um novo bairro, edificando casas dando origem ao hoje bairro da Raiz, para receber os ribeirinhos. Se houvesse essa preocupação há muito mais tempo, os igarapés que cortavam Manaus, os balneários que existiam e outras relíquias da história poderiam continuar existindo e não teria sido necessário a aterramento dos igarapés para a construção que embelezaram Manaus sim, mas tudo isso poderia ter sido evitado!

O que aconteceu durante o que descreve a professora Ednéia Mascarenha Dias, em seu excelente trabalho crítico, pode voltar a se repetir mais uma vez se a verdadeira vocação para o desenvolvimento econômico não for desenvolvida no Amazonas, buscando sua biodiversidade existente voltada à pesquisa de remédios e outros produtos originários da floresta. O Estado já perdeu a riqueza da borracha, que bem ou mal, produziu melhorias quando retornava em forma de investimentos do Governo Getúlio Vargas; o governador Eduardo Ribeiro os investia em obras de embelezamento da capital com a construção do Teatro Amazonas, pontes de ferros trazidas da Inglaterra e montadas em Manaus, tudo para “inglês ver” e viver bem, como se ainda vivesse em Liverpool e não em uma densa, exuberante e sofrida floresta!

Não discuto se foram úteis e necessárias essas obras, mas sei que aterrar igarapés para embelezar Manaus, em um momento em que o Amazonas necessita de investimentos em educação, saúde, habitação, jamais será considerada prioridade emergencial; mas politiqueira apenas!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 03/03/2013
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