Que caminho toma a água que você não usa quando você não toma banho?
Acordei cedo e fiquei revirando na cama, quiz deixar meu companheiro dormir mais um pouco e fui para o sofá fazer o auto tratamento reiki. Ouvi uma voz masculina dizendo: ”Para onde você vai me levar?” Olhei para os lados e não havia ninguém. Questionei o nada o que isso queria dizer e tive um diálogo interno sem nenhuma conclusão...
O meu dia foi recheado de coisas a fazer e todas elas foram bem divertidas ou prazerosas, mas no final da tarde nada a fazer... o prêmio final – tédio.
Meu companheiro estava assistindo um seriado o qual eu não gosto e fiquei com a companhia do computador, nada de novidade no Facebook, ninguém online. Quiz entrar em leve desespero, mas eu estou na fase do ”orai e vigiai” mais no vigiai do que orai, pois nem todos os dias consigo fazer meditação. Ando vigiando meus pensamentos, visto que eles podem ser sementes que estarei plantando para o futuro. Não, não e não. Sem desespero, sem ansiedade e sem tédio.
Fui até a sala e falei para meu companheiro: ”Älskling, jag är uttråkad./Amor eu estou entediada” E ele me disse para encher a banheira e relaxar na água, visto que eu adoro água. Respondi a ele que ontem eu havia tomado banho de banheira e não faria isto hoje novamente porque eu estaria dispersando água. Ele me perguntou: ”Que caminho toma a água que você não usa quando você não toma banho?”
Com esse pensamento, enchi a banheira com a consciência pesada e tentei relaxar. Sentei na banheira enquanto ela enchia eu lia um livro e a sensação da água quente subindo pelo meu corpo, fez eu esquecer por uns minutos qual caminho que a água toma.
Quando a banheira encheu e eu larguei o livro para deitar e relaxar, bateu novamente a pergunta: ”A água que você economiza, que caminho ela toma?” Lembrei que ontem eu havia feito capelleti recheado com tomate seco e sobrou um pouco e meu companheiro me disse: ”Coma mais, ainda tem um pouco.” e eu respondi: ”Eu estou satisfeita, a comida que eu como a mais, estarei comendo a comida de alguém.” e ele me disse: ”A comida que você deixa de comer vai matar a fome de alguém de que jeito?”
”A água que você economiza, que caminho ela toma?
Na banheira fui tomada por vários pensamentos e lembrei que quando eu ainda estava casada com o pai dos meus filhos, a gente vivia mais na casa dos pais dele do que na nossa casa. Todos os dias após o jantar a avó dos meus filhos colocava o restante da comida num pote plástico para o ”Moacir”, Moacir era um um homem que tomava conta de algumas casas na rua, ele passava a noite na rua e quando a gente sentava na calçada para se refrescar o meu sogro oferecia comida para ele. Ele virou freguês, todas as noites ele vinha buscar comida. A campanhia tocava e alguém sempre dizia sem nem ao menos olhar pela janela: ”É o Moacir.”
Bateu saudade das conversas em família na calçada, meus filhos sob os meus cuidados, do Moacir...
(A minha filha não é mais minha, e meu filho também não é mais meu, eles tem outros donos.)
”A água que você economiza, que caminho ela toma?
Moacir ficava enteadiado? Creio que não, ou talvez nas noites de chuva? As ruas em Ribeirão Preto nas imediações do Jardim América eram movimentadas...Não Moacir não ficava entediado, ele ouvia conversas fragmentadas de pessoas andando pelas ruas a noite. Eu passo muitas noites em claro e olho pela janela, eu não ouço conversas fragmentadas, eu vejo uma cidade dormir e a lua toma conta da cidade, a lua toma conta de mim. A lua não fala comigo, ela fica se exibindo porque ela está lá em cima olhando tudo e eu só olho para ela.
”A água que você economiza, que caminho ela toma?
Quero sair da banheira, mas não faz tanto tempo que entrei nela, a espuma já acabou e a água é cristalina se eu a jogar fora que caminho ela toma? Ah sim, ela vai para a terra levando toda a minha energia, a minha energia estagnada, a terra vai transmutar as minhas energias, vejo chuva descendo, sol quente evaporando a água... a água que evapora aqui, o vento não pode levá-la para a África e para o nordeste do Brasil?
”A água que você economiza, que caminho ela toma?
Olho novamente para a água na banheira, límpida, eu precisava mesmo ter tomado banho? A minha roupa que tirei ainda estava com o cheiro de amaciante. No Brasil muita gente guarda a água da máquina para lavar o quintal. Se eu deixasse a água na banheira eu poderia lavar o banheiro com ela. Quanta pobreza de espírito. A pobreza de dinheiro dá-se um jeito, mas a minha pobreza de espírito será que tem cura?
”A água que você economiza, que caminho ela toma?
Moacir, comida, água na banheira, água da máquina de lavar roupa, nunvens, chuva, lua e janela...
Soltei a água da banheira e tomei o caminho do computador. Alguém estava entediada e sem inspiração para escrever. A água levou meu tédio e a inspiração voltou.
”A água que você economiza, que caminho ela toma?