Lembranças De Crianças.

O ano era 1954.Tenho certeza porque era o aniversário de 400 anos de SP.Agitação geral na família. O que escrevo são fatos da minha história e da minha família. Foi a primeira vez que vi o mar(lembrei-me de Rubem Braga). A preparação para a viagem,os parentes que foram convidados,o caminhão que nos levaria,visto que naquela época a estrada era muito precária e um carro seria pouco para tanta gente. É...seo Luiz tinha um carro elegante apenas para 5 pessoas. Naquela época o dinheiro valia porque o Getúlio Vargas deixara o país rico.O FHC detesta o nome Getulismo. Bem...leiam os livros dos grandes Professores e Pensadores Luiz Carlos Bresser Pereira e Celso Furtado sobre esse período..O Brasil cresceu e muito graças à Politica Educacional e Econômica de Vargas.As Grandes Cabeças-Pensantes até os anos 80 são filhos do período Vargas. Burle Marx,TomJobim,Niemayer, e tantos outros. E assim posto ,voltemos ao caminhão para a gloriosa viagem dos Ribeiros rumo à praia.Uma lona cobria a carroceria para evitar o sereno.Tábuas de lado a lado para sentar.A molecada não queria saber nada disso,pois se esparramava pelo chão do carroceria,apesar dos solavancos.Foi junto o tio Gabriel.o primo Sérgio e não sei quem mais.Parecia aqueles filmes italianos do pós-guerra.Belíssimos!!! Saímos às4 da matina.Descemos a ladeira de Aparecida(rezando é claro) em direção à Rodovia Dutra até Taubaté,daí entramos por uma estrada de terra e cascalho.Criança é mesmo feliz compequenas coisas.A poeira,os solavancos,as reclamações dos adultos,nada tirava o bomhumor da molecada.Criança é mesmo feliz apesar do adulto.Seguimos até Jambeiro,depois Paraibuna,e ,nesta cidade,a estrada passava em frente a um cemitério onde havia uma placa que dizia:*Nós que aqui estamos,por vós esperamos.* Magnífica frase para uma molecada louca por se divertir.Paraibuna,até pouco atrás,fazia uma linguiça de porco pura,fininha,de boa qualidade.Seguimos...o mar nos espera. Vegetação densa,mata cerrada,mata atlântica de beleza única(hoje não existe quase nada).Os raios de sol penetravam aos poucos no dia que estava amanhecendo por entre galhos das árvores.Sorridentes e entorpecidos por tanta diversidade,sorríamos para as primeiras luzes do sol .Lá longe,ao longo da estrada,observamos uma fumaça saindo de uma chaminé e um cheiro delicioso de algo assado,Era o Bar do Alemão e suas broas e linguiças assadas e outras guloseimas num fogão à lenha. Dá vontade de chorar de tanta saudade e delícias.Paramos.Frenesi geral.A comida assusta as pessoas.Trago ainda nas minhas narinas o cheiro do café coado no Bar do Alemão.Todo feito de pedra e barro em um lugar abençoado por Deus.Paramos no mirante logo à frente.Obra da Divindade! E rezamos à Ela para que nos ajudasse na perigosa descida da serra. E nos ajudou...A criançada era o Anjo-da-Guarda.Ficamos na casa do prof.Murilo,diretor do Grupo Escolar de Aparecida,junto ao pé da serra.Lugar gostoso e quieto.Afoitos,fomos conhecer o Mar! Mil recomendações da mãe e os olhos esbugalhados de todos ao ver o mar pela primeira vez( o conto do Rubem Braga-A Primeira Vez Que Vi o Mar).O vai-vem do mar é igual à batida do coração.É só contar.Cheguei perto...um pouco mais...mais...mais até o rebentar das ondas tão dóceis do mar de Caraguatatuba.A Pedra-do-Jacaré ainda era uma incógnita para mim.Tempos depois fui conhecê-la e dar uns mergulhos do alto. Quanto tempo ficamos em Caraguá? Não sei...só sei que tinha muita fome.O primo Sérgio cheio de bolhas parecia um camarão de vermelho que ficou.Guardei uma estrela-do-mar até o dia em que começou a cheirar mal.Joguei fora...Tudo que é bom acaba um dia.Voltamos tristes,mas voltamos.Quando entrei em casa,fui prá minha cama aos prantos.Queria morar lá,queria ficar lá,queria viver lá.Chorei muito quando voltei da aventura de ver o mar pela primeira vez.Saudades da praia tem sentido até hoje.Alguma coisa está entranhada em mim com relação ao mar:Caraguatatuba,Ubatuba,Ilha Bela,Cambury,Boiçucanga,Cananéia ,todas tem um sentido para mim.Eu vivi tudo isso!!! Fiquem na paz!

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 02/03/2013
Reeditado em 01/10/2014
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