ÉTICA NA TV

Em 1985, o então ministro da Justiça Fernando Lyra, falecido há pouco, do governo do presidente João Figueiredo, anunciou, no Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, o fim da censura, a mais de 700 intelectuais reunidos naquela casa de espetáculos. Aquela determinação, esperada ansiosamente pelo povo, foi aplaudida de norte a sul do país. A mordaça nos foi arrancada, surpreendentemente, por um governante da ditadura militar. Filmes para a televisão, diversões, espetáculos públicos e até músicas de compositores considerados de esquerda, foram liberados. Estávamos livres daquele horror, que teve a sua fase embrionária gestada, nascida e bem criada na ditadura do Sr. Getúlio Vargas.
Em 12/02/2003, a imprensa divulgou que a Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal criava o Conselho de Acompanhamento da Mídia (CAM). Uma espécie de juízo para apreciar e, talvez, julgar procedimentos inadequados, o que vem acontecendo com as emissoras de televisão no Brasil, desde que a censura foi extinta. Não queremos a volta da inflexibilidade daquele rigor que experimentamos por muitos anos, desse ato espúrio de regimes totalitários. Mas, que uma reparação deve ser feita do abuso que vem cometendo a mídia, não considerando mais os princípios que regem os bons costumes, parece-nos cabível. Basta atentar - sem a pudicícia dos claustros dos conventos - para os programas que as nossas TVs nos apresentam diariamente. Não excluo aqui essa ou aquela emissora. Todas comungam da mesma liberalidade para entrar em nossos lares, em horários chamados nobres, para nos afrontar, e os nossos filhos, principalmente, com erotismo descabido. Os produtores, diretores e apresentadores desses veículos de comunicação acham-se no direito de determinar esse tipo de promiscuidade. As novelas, por mais requintadas em técnica e riqueza de cenários, desempenhadas por atores famosos, até no exterior, enchem, todas as noites, os nossos olhos de fiéis expectadores, de atos libidinosos, repulsivos à dignidade da família brasileira. Afora isso, as lições de ousadia, de intolerância, de atrevimento, de desrespeito de personagens jovens, para com os pais, quando encarnam papel de filhos, ou filhas, nos enredos das novelas, compreendem os notáveis novelistas, certamente, como inofensivas, sem qualquer influência à
formação da personalidade de adolescentes expectadores. Essa "escola" em nada mudará o relacionamento pai-e-filho aqui fora dos estúdios cenográficos das televisões, presumem os produtores, quem sabe?
Não se deseja a volta da austeridade que nos impingia a censura. Mas, se faz imprescindível uma alternativa que defenda a sociedade, o público, de uma maneira geral, do menosprezo de certos apresentadores de televisão, que, com o um rico repertório pornográfico, enchem os nossos lares com quadros obscenos, figurados por comediantes medíocres.
Se televisão é cultura, como o cinema, por que a produção de programas de péssima categoria, como aos que estamos assistindo desde que a censura foi banida da vida social do país? Qual a mensagem cultural que nos transmitem as cenas passadas entre as paredes de uma mansão, adrede preparada, onde moças e moços bonitos, "sarados", como se diz agora, escolhidos cuidadosamente, são "enclausurados", por um tempo determinado? O que se vê ali de proveitoso para empolgar a gente? E para aquilo, lastimavelmente, existe uma enorme platéia, que torce entusiástica, não sei se pelos quadros de amores lúbricos, na intimidade dos concorrentes, mostrados - explicitamente - pelas câmeras ocultas nos ambientes da casa, ou pela vitória desse ou dessa participante, que, finalmente, além de prêmio material, ganhará destaque nos meios artísticos, com efeito, na televisão.
Se televisão é cultura, repito, deveriam excluir - ainda há tempo - as apresentações perniciosas, em que os seus apresentadores vibram despudoradamente nas disputas de rapazes e moças, em roupas mínimas, no interior de uma majestosa mansão, ou nos domínios de rica fazenda (rural). Nas novelas, nos horários, como disse, nobres, as cenas de amor, explícitas, entre os figurantes principais, são de avermelhar os rostos até das nossas “vovozinhas”. Tudo, ou quase tudo, na televisão está fundamentado em sexo. Mas, tudo não está perdido.
O Conselho de Acompanhamento da Mídia (CAM), criado, se não foi sufocado no seu nascedouro pelas forças ocultas do poder econômico, poderia aparar as arestas incômodas do desrespeito das emissoras de televisão para com o público, sem se tornar um instrumento de mando, de imposição. Porém, de a-con-se-lha-men-to, como quer dizer o nome que lhe deram.


 
Pablo Calvo
Enviado por Pablo Calvo em 02/03/2013
Código do texto: T4167322
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