AQUELE ABRAÇO
Minha querida cidade aniversaria hoje!
O Rio é um eterno menino com 448 aninhos de esplendorosa vida.
Crescendo sempre, mas mantendo ainda vivos os saudosos traços dos tempos coloniais, oferece, a cada dia, um ângulo novo, um insuspeitado detalhe em sua exuberante paisagem, até mesmo para quem, como eu, aqui nasceu.
Nas veias do meu povo corre o sangue miscigenado de raças diversas, mas, estranhamente, em todos, o traço comum é o do supremo orgulho de pisar este chão, é o de amar, incondicionalmente, o seu Rio de Janeiro.
Indiferente ao peso das mazelas que nos afligem, nossa gente encontra forças e mantém a irreverência e o humor que lhes são como marca de nascença.
Não temos dúvidas de que o Senhor, ao criar este recanto, deu-lhe tratamento, não de pai, mas de avô e multiplicou tanta beleza, derramando-a, com extremo carinho e arte, por todos os quadrantes da cidade.
Somos, por assim dizer, reféns de tanto encanto e em cada canto eu canto, também, tanto esbanjamento de maravilhas. Sou um privilegiado, nasci num bairro de boa boemia, a Gloria, vizinha da velha Lapa, do ponto de bonde, do baixo meretrício, da época dos bambas, como o capoeirista emérito, Madame Satã. Vivi numa época de ouro e, agora, revivo tudo. E isso prova que a cidade do Rio de Janeiro continua menina e menino; menina, quando cidade, menino como o nosso amado Rio de Janeiro, travesso, de língua solta, sempre com um apelido novo, crítico por natureza, emérito gozador, mas com um coração muito maior que ele; seresteiro e brincalhão, moleque, sempre.
Hoje, milhões de irmãos brasileiros e estrangeiros estão felizes; outros tantos milhões de abraços repetem o refrão do Gilberto Gil : "Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!"
A minha cidade sorri, agradecida e retribui, certa porém de que o diário e eterno abraço que mais preza é o do Redentor.
Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!
(não deixe de ler a colega Ana Flor do Lacio)