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A SOLITÁRIA MANGA ROSA
                                                          In memorian de
                                                          João Moura Gomes, meu pai.
 
Final de dezembro. O pé de mangas rosa está refeito pela temporada de chuvas; sua folhagem verde vivo envolve a árvore por inteiro. Não há mais sinal dos frutos, restando os pedúnculos ressequidos a identificar onde frutificaram as mangas colhidas. A safra terminara.
No alto, em seu interior, Juanito movimenta-se de galho em galho, exercício de molecagem e prazer desafiando alturas.  Desloca um pequeno galho à procura de melhor posição e observa; afasta outro buscando melhor visão e apóia, na sequência, um dos pés e segue movendo galhos e movendo-se em meio aquele envoltório verde, incrivelmente verde.
Eis que determinado momento, à sua frente,--- afastado o galho --- os olhos do menino saltam de contentamento! Em meio a um nicho de folhas a fruta solitária se revela a ele.
Ela, rosada e atraente, mantivera-se formosa, perfeita; o entretom entre o vermelho e o amarelo, tão natural do fruto, encanta o menino.
 O imprevisto agradável reluz aos seus olhos, enquanto a visão de recheado pote de doces não faria efeito igual.
A feliz descoberta ao calor do  inesperado inebria-o! 
O garoto aproximou a mão com o sentimento de tocar algo sagrado; premeu-a com a delicadeza de apalpar um recém nascido, sentindo os dedos aprofundarem-se na maciez da sua carne... madurinha que sentia o gosto!
Trouxe-a para junto de si;  mais uma vez examinou-a; agora de ponta a ponta se admirando da forma robusta, sadia. Por fim, um nó nas pontas da camisa; acomoda-a dentro não sem antes tê-la beijado,  beijo de radiante alegria, e desce.
Ah, bendita fruta apanhada no pé e imediatamente saboreada! Guardas em ti a essência das delícias que se foram na doçura dos frutos já colhidos.
E não és melhor ainda quando flagrada solitária no final da safra, escondida de tudo e de todos? Sim, és! Ali tu esperas, como um prêmio, a quem tiver a mão ousada de descobrir-te; tu te guardas qual a virgem sagrada, recatada em teu abrigo protegido, pronta a premiar os desígnios de quem primeiro lhe deitar as mãos.
No chão, o menino recosta sentado ao grosso tronco admirando por instante a fruta em sua mão. Seus olhos brilham!  Esfrega-a paciente na camisa e acaba por desferir-lhe profunda bocada.
Acima, o sabiá alvoroçado trila num repto ou busca a companheira, mas, no momento, nada disso interessa ao menino.
moura vieira
Enviado por moura vieira em 01/03/2013
Código do texto: T4165881
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