A Língua de Deus

Deitei em minha cama, ergui meus pensamentos, pensei em meus guias, meus santos, amparadores e anjos, qualquer estrela que pudesse levantar-me da areia e colocar-me nas alturas de uma sintonia segura com o lugar de onde o Amor vem e a Vida é a única matéria que habita. Firmo a minha intenção, mas a atenção se torna desejo:

"Sem ofensa, amigos do Outro Lado, mas como eu gostaria de falar diretamente com meu Pai, com a minha Mãe, com a Força Criadora, sem precisar de vocês, como intermediários. Como eu gostaria de fazer isso, sem ponte, sem telefone, sem mensageiro."

Pensando nisso, me perdi, e em meio ao meu devaneio, percebi primeiro, que diante de algo tão Maior que eu, minha mente formiguinha se escondia, se atrapalhava, buscava referências diversas, mas falhava na missão de, ao menos, manter a atenção na intenção de se sintonizar com esse Amor que é a Causa maior da minha existência.

Com um esforço bem grande, consegui firmar meu pensamento e novamente busquei a conexão, tentando começar uma conversa, um bate-papo; porém, a pergunta "Como se começa uma conversação com Deus?" absorveu uma vez mais a minha atenção:

" Podemos falar "oi" ou " olá"?

Ou posso ir chegando assim, como se ele fosse um amigão (sem plumas ou frescuras, afinal, sou da família)?

Que língua é melhor usar? Português ou Inglês? Sânscrito ou Latin?

É melhor fazer uma reverência, como se faz com o Papa ou com o Dalai Lama?

E qual é a melhor forma para chamá-lo? Ou chamá-la? Jeová? Allah? Brahman? Jáh? Ellohim? Iavé? Yehoshua? Quais dos 72 nomes devo usar?

Já pensou que coisa mais desagradável, finalmente encontrar Quem te criou, daí, Ele olha para você todo lembrança e diz assim:

- E ai Frank?

E você, com jeito de quem faltou na aula de hebraico, fica com uma cara de Cabala mal entendida e tenta desesperadamente lembrar se o nome do Todo Poderoso termina com "EL" ou com "On" e o máximo que consegue dizer é:

- Tudo beleza?... hum...Emanuel, certo?"

Sim, caros leitores, percebam que ao pensar nesse mico, lá fui eu de novo, me perdendo nos entretantos e esquecendo o foco, e dali a pouco já seria dia e eu nada de sintonia...

E em meio a todas essas dúvidas, dei me conta do motivo pelo qual tanta gente busca ajuda, quer encontra mestres, padrinhos e professores: caminhar sozinho por essa jornada do Divino é mesmo muito trabalhoso.

Essa jornada exige um custo muito alto do andarilho, pois requer discernimento e atenção constante; coisas bem distantes do caminhante moderno, que reza com o filho chorando e os amigos criticando o seu credo.

Bem mais fácil é ter sempre a disposição alguém que faça o trabalho pela gente, que se comunique na língua que for com o Senhor; pois, basta procurar esse mensageiro para fazer um pedido, chorar alguns probleminhas e continuar com a ladainha da ovelha perdida pecadora que faz tudo errado porque a culpa é sempre de uma outra pessoa, do governo, da família, da sociedade e da falta de oportunidade que passou mais uma vez na nossa porta, mas estamos muito mais preocupados em pedir esmolas.

Fácil...mas será certo pedir a outra pessoa que caminhe por nós? Uma coisa é pedir ajuda quando realmente precisamos de uma orientação, outra coisa, é ficar dependente de um mestre, professor, dos signos, do oráculo, das cartas do baralho, do médium ou seja lá que meio for, quando precisarmos decidir qualquer coisa, ou tomar uma simples escolha.

Sim, é preciso estudar para saber viver, e é obrigatório pensar e caminhar por conta própria.

Do contrário, isso significa passar adiante o serviço, fugir da responsabilidade e deixar com outro a chave da porta da nossa casa, pois a conexão com o Criador é uma porta que se abre para um entendimento maior dos motivos pelos quais estamos vivendo aqui nesse plano. Não se esforçar para estudar significa pedir a outro que vá até aquele lugar que é a nossa Verdadeira Morada por nós, por não sabemos ler o Guia do Nosso Próprio Coração. Será que não conseguimos fazer isso sozinhos?

Por quanto tempo seremos Analfabetos da Alma? Afinal, não basta aprender a ler os livros sagrados, saber de cor os hinos, pois qualquer analfabeto funcional do Divino consegue isso.

Não seria a obrigação do aluno se tornar um estudante de verdade da sua própria jornada?

No caso De pedirmos ajuda, não seria obrigatório esse "professor" nos ensinar a caminhar com as nossas próprias asas?

É seguro deixar a nossa cabeça nas mãos da interpretação alheia?

Deve ser! Só assim para explicar tanta igreja; só assim para explicar tanta gente nas mãos de falsos "intermediários".

Deve ser. Só pode! Afinal, Deus esta sempre comigo e nunca deixaria alguém falar em Seu nome, ou me guiar, se essa pessoa não fosse mesmo especial, um "escolhido", alguém melhor que eu...

Humm...

Melhor que nós só Deus, no resto somos todos iguais, todos UM só, se não for isso, qualquer outro aquilo é um nó, que nem quero pensar em desatar.

Vai ver tem algo errado comigo, pois sou ovelha, mas não sou cordeiro desgarrado chamando cachorro de lobo; e não gosto de deixar a minha cabeça a prêmio nas mãos de guru ou intercessor, por isso, a minha necessidade em aprender a me comunicar com o Criador.

Daí, também, meu leitor, a minha dificuldade e finalmente, lá pelas três da madrugada, retornei ao foco e orei:

"Meu Deus, manda uma luz, dai me uma ideia para que eu compreenda que isso é possível, que falar Contigo não é apenas uma ideia maluca de um paraíba vagamundo perdido num mundo sem qualquer lenço ou crônica que possa servir-me de alento;

Envia me uma direção, qualquer pista que há algo aí e que posso sentir esse algo aqui também em algum lugar dentro de mim;

Ensina-me, Meu Pai, Tua língua, para que a nossa comunicação seja clara ao meu grilo falante que acha que ele é a única coisa que existe só porque é feito de matéria e Tu parece que não É;

Sombreai sobre mim, minha Mãe, o Teu conhecimento para que essa crônica de mim mesmo possa também iluminar um terceiro que a leia e lê o que eu escrevo, pois tem também a mesma busca e as mesmas dúvidas, mas está, como eu, com o coração aberto para acreditar numa Luz Maior que nos norteia.

Ajudai-me, Ô Grande Amo...

O quê?

Cala a b...!

O que a Senhora disse?

Boca???

Senhor?

Para eu calar o quê???

Cala a minha boca!???

Ein?"

...

...

...

Será possível?

...

Será possível haver uma outra forma de comunicação que não precise da fala, nem das palavras, nem dos pensamentos; e ainda assim a comunicação seja feita, absorvida, entendida, compreendida, processada e retida e mesmo ainda, fazer todo o sentido?

Será possível haver uma língua que não faça Babel das minhas intenções? Será que além do TUM TUM TUM do peito, há mesmo um Coração que bate AMEM AMEM AMEM na Alma?

Sim, há o Coração dos corações, batendo no peito de cada um de nós, que vai além da razão, pois ultrapassa dimensões e se comunica por linguagem não dita, por comunicação não-escrita, nem pensada; só sentida.

Esse Coração dos corações se comunica em linguagem de pura luz que só tem significado para quem cala a mente, segura a fala, e escuta atentamente o que se sente.

Sim, eu escuto esse Coração batendo AMEM AMEM AMEM e pela primeira vez compreendo o que sempre soube: para se comunicar com o Senhor, basta falar AMOR!

AMEM! AMEM! AMEM!