PAPA: RENUNCIAR SERIA A SOLUÇÃO?
Por Carlos Sena


 
Sonhei conturbadamente com o PAPA. No sonho o papa chegava a me dizer os motivos pelos quais houvera renunciado: a música de Valdick Soriano. Dizia-me ele, no meu sonho, que diante das duvidas cruéis acerca da sua renuncia, eis que um arcebispo latino, fã do cantor brega brasileiro o convida para escutar aquela canção: “Renunciar, seria a solução, mas não apagaria, das nossas almas, cruel paixão”(...). Ao ouvir essa música, teria ele se convencido mesmo de que sua cruel paixão pela igreja não acabaria com sua renuncia. Ouviu a música até o fim e se abraçou com o arcebispo latino, mais precisamente brasileiro, dizendo: “pronto. Agora eu me inspirei para não dizer ao povo que sou fraco, mas que sou forte, mais forte do que os boatos de pedofilia, de rombos no banco do vaticano e até mesmo mais forte do que os poderosos da igreja que até pensaram em me assassinar”. Meu sonho se revestia de angústia, pois mais que um sonho, tudo parecia muito real. De repente, o até então PAPA me dizia que lá fora a multidão lhe espera para a bênção habitual, mas ele diferente de Pedro I ia dizer ao povo que “Não Fico”... E partiu para a janela. Quando ele começou a falar com a multidão sobre o dia do “não fico”, eu, cansado, ofegante, acordo e fico tonto sem entender os motivos daquele sonho mais pesadelo do que sonho. Suado na cama, ligo a TV e lá está o PAPA anunciando ao mundo que “não ficava”, que renunciava, (tal qual a música de Valdick Soriano) para o bem da própria igreja.
Diante do sonho e da realidade que a TV me mostrava, fiquei sem saber se a verdade era a TV ou era o meu sonho – algo como se, vendo o PAPA pela TV se despedindo do povo, fosse uma continuidade do meu sonho. Ainda meio zonzo, aos pouquinhos fui caindo na real. Vi que meu sonho era um pesadelo e que aquela minha realidade deveria ser um sonho. Afinal, ver um PAPA renunciar é mais raro do que ver um enterro de anão, ou ver cabelo de freira... Vendo aquela multidão acotovelada para ver Sua Santidade, fiquei me lembrando, ainda como um sonho, de quando eu perguntava a minha mãe “Por que o Papa era tido como Santo”? Minha mãe dizia que era porque ele era escolhido por Deus. E eu acreditava e consolidava na vida adulta quando nas discussões acerca da eleição dos PAPAS os bispos entrevistados sempre diziam que é uma escolha inspirada por DEUS... Eu acreditei até muito pouco tempo. Hoje, diante de uma igreja par-ti-da, preconceituosa, resistente aos novos tempos – verdadeira ilha cercada de dinheiro e de pecados por todos os lados, prefiro recuperar meu sonho. Mas como tornar um sonho recorrente? Infelizmente a gente não tem esse poder. Por isso me pergunto: foi um erro de Deus quando permitiu a eleição do Papa Bento? Ou foi Deus quem se arrependeu porque o Papa tinha mais pecado nas costas do que os simples mortais? Não vou responder. Melhor forçar um sonho recorrente mesmo sem estar sonhando.
Afinal, pra que PAPA na língua? Eu sempre soube que toda farinha tinha seu dia de PAPA (ou de mingau). Por não ter papa na língua lembro que, quando criança, meio ingênuo, meus coleguinhas me perguntavam: “você sabe quem é a mãe da PAPA”? Como eu não sabia eles diziam “a mãezena”... Depois eles ainda me pegavam novamente: “sabe quem é o tio da parede”? Como de novo eu não sabia, eles diziam “o tioJOLO”... Daí por diante eu passei a ficar esperto e não mais ter PAPA na língua. Mas mesma a minha língua sem PAPA terminava me levando ao PAPA de Roma, pois a minha língua já sem PAPA sempre está unida ao “céu”, da boca, mas ao céu... No rol dessas paparias, minha mãe ainda achava pouco e nos chamava para as refeições dizendo “meninos, venham papar”... Diante dessas elucubrações todas, humor à parte, a gente fica refletindo sobre a decadência da igreja. Não da fé. Ficamos diante de uma sucessão de renuncias: o papa renunciou porque parte de seus colegas de fé, renunciaram a fidelidade que tinham a ele; por outro lado, Deus renunciou a permissão que dera há oito anos quando permitiu a eleição de Bento. Enquanto isso muitos católicos renunciaram a igreja e debandaram para as seitas que tomam conta do mundo...
Finalmente o PAPA renuncia e, de helicóptero vai pra Castel Gandolfo... Cansado de tanto falatório sobre o papa, lá vem a minha secretária com um prato de papa quente de maizena. Eu adoro papa de maisena, mas nem essa eu aquentei mais. Melhor dormir, pensei. No dia seguinte me acordo com um novo pesadelo: os jornais traziam em primeira página: “LULA, ex-presidente do Brasil que ser candidato a PAPA”... Então eu mais uma vez me lembrei da canção de Valdick: “Renunciar seria a solução, mas não acabaria de nossas almas cruel paixão”...

CARLOS SENA
Enviado por CARLOS SENA em 01/03/2013
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