Escolhas
Por Carlos Sena
A vida é mesmo uma grande tenda de significados. Nós, escriDores um pouco mais que outros, podemos ver isso na prática. Os poetas também. Ressignificar a vida é um pouco do ofício dessas ocupações. Por isso entendo agora a significação da vida tal qual uma feira. Feira de “mangaio”, de preferencia. Ir à feira, especialmente as de rua nos conduz a um mundo de opções de escolhas. Nas escolhas, perdas e ganhos se possibilitam entre si, mas fazem parte do ofício de quem vai a feira – frutas, verduras, legumes, carnes, bugigangas, etc. Imagino esse cenário no espelho da feira de Caruaru-PE onde de tudo tem pra vender. Ora, se tudo há pra vender, nem tudo pode ser comprado sem escolhas. A vida é um pouco disso: escolhas! Nem todos têm as mesmas escolhas a fazer na mesma “feira” nem no mesmo momento. Afinal, nem tudo que tem na feira a gente precisa e muitas vezes o que precisamos nela não encontramos. A feira nossa de cada existir difere muito entre os indivíduos e seus tempos. Mesmo porque na feira não basta querer, mas, ter o dinheiro suficiente para escolher o que queremos no preço que podemos pagar. Ou termos o dinheiro que podemos pagar e não encontramos o que procuramos para comprar. Essa “feira” é um pouco da cronologia das pessoas em seus tempos. Há um tempo em que vamos às feiras diversas do nosso existir. Feira do amor, feira da paixão, feira da desilusão, feira... Em todas elas pouco a gente compra em conformidade com o nosso gosto. Em todas elas nosso agrado nem sempre é compensado na lógica do preço bom e da “mercadoria” escolhida. Algumas vezes chegamos à feira já tarde: só mercadorias remexidas, rebotalhos do final da tarde com os feirantes meio que liquidando “frutas, verduras, mangaios”... Frutas verdes do anoitecer solitário; verduras murchas iguais ao dia em que um grande amor nos abandonou e nós murchamos por dentro; quinquilharias: urupembas, candeias, panelas de barro do nosso existir às vésperas da quebradeira, do rachado do anos... Vassouras para as nossas “piaçavas”, abanadores de palha para nos aliviar do sufoco do calor que a vida nem sempre boa nos proporciona!
Na feira da vida, belo dia a gente descobre que qualquer hora é hora para ir às compras! Mas há restrições importantes que só o tempo nos ensina: é quando a gente não se permite a levar pra casa qualquer fruta por falta daquela que é a nossa preferida! A gente chega na “feira” e escolhe! Se não for do nosso querer a gente não leva – dá-se a esse luxo. É quando a gente não leva pra casa desaforos! É quando a gente não leva pra casa amores “líquidos” pra não manchar nossa cama de suor reprocessado de outros corpos já embriagados por bebidas insípidas de outros copos. É quando a gente escolhe que “não” é “não” e não adianta o “feirante” insistir. É quando a gente escolhe até mesmo pagar dobrado em função do nosso prazer, por uma mercadoria que a gente quer – um pouco da lógica popular do “mais vale um gosto do que dez mil réis”... Mas esse estágio de vida é complexo, geralmente acontece quando a gente, qual a cana, foi moída e triturada pela possibilidade de nunca perder a doçura...
Fazer escolhas é tão definitivo quanto perder ou ganhar. Ganhar, na feira da vida das nossas escolhas, nem sempre é levar pra casa o “objeto”. Algo como não se poder viver sem escolhas sabendo que elas não nos garantem a plenitude daquilo que escolhemos. O fato de alcançarmos o poder de definir as escolhas é uma vitória imensa de cada um diante de si. No geral as vitórias, as grandes maratonas, as olimpíadas, acontecem por escolhas das multidões. Multidões que conferem troféus, troféus que com o tempo ficam empoeirados e enferrujados nos escritórios dos vencedores... Nossas escolhas não. Ir pra “feira” definir nossas escolhas é como instituir troféus por dentro de nós e que irão conosco até o túmulo. De repente, não há feira livre a noite nas grandes cidades, mas nós as temos dentro de nós repletas de “mangaios” escolhidos por nós. Essa é a diferença estabelecida em nossas ressignificações do “escolher”, “ganhar”, “perder”...
Por Carlos Sena
A vida é mesmo uma grande tenda de significados. Nós, escriDores um pouco mais que outros, podemos ver isso na prática. Os poetas também. Ressignificar a vida é um pouco do ofício dessas ocupações. Por isso entendo agora a significação da vida tal qual uma feira. Feira de “mangaio”, de preferencia. Ir à feira, especialmente as de rua nos conduz a um mundo de opções de escolhas. Nas escolhas, perdas e ganhos se possibilitam entre si, mas fazem parte do ofício de quem vai a feira – frutas, verduras, legumes, carnes, bugigangas, etc. Imagino esse cenário no espelho da feira de Caruaru-PE onde de tudo tem pra vender. Ora, se tudo há pra vender, nem tudo pode ser comprado sem escolhas. A vida é um pouco disso: escolhas! Nem todos têm as mesmas escolhas a fazer na mesma “feira” nem no mesmo momento. Afinal, nem tudo que tem na feira a gente precisa e muitas vezes o que precisamos nela não encontramos. A feira nossa de cada existir difere muito entre os indivíduos e seus tempos. Mesmo porque na feira não basta querer, mas, ter o dinheiro suficiente para escolher o que queremos no preço que podemos pagar. Ou termos o dinheiro que podemos pagar e não encontramos o que procuramos para comprar. Essa “feira” é um pouco da cronologia das pessoas em seus tempos. Há um tempo em que vamos às feiras diversas do nosso existir. Feira do amor, feira da paixão, feira da desilusão, feira... Em todas elas pouco a gente compra em conformidade com o nosso gosto. Em todas elas nosso agrado nem sempre é compensado na lógica do preço bom e da “mercadoria” escolhida. Algumas vezes chegamos à feira já tarde: só mercadorias remexidas, rebotalhos do final da tarde com os feirantes meio que liquidando “frutas, verduras, mangaios”... Frutas verdes do anoitecer solitário; verduras murchas iguais ao dia em que um grande amor nos abandonou e nós murchamos por dentro; quinquilharias: urupembas, candeias, panelas de barro do nosso existir às vésperas da quebradeira, do rachado do anos... Vassouras para as nossas “piaçavas”, abanadores de palha para nos aliviar do sufoco do calor que a vida nem sempre boa nos proporciona!
Na feira da vida, belo dia a gente descobre que qualquer hora é hora para ir às compras! Mas há restrições importantes que só o tempo nos ensina: é quando a gente não se permite a levar pra casa qualquer fruta por falta daquela que é a nossa preferida! A gente chega na “feira” e escolhe! Se não for do nosso querer a gente não leva – dá-se a esse luxo. É quando a gente não leva pra casa desaforos! É quando a gente não leva pra casa amores “líquidos” pra não manchar nossa cama de suor reprocessado de outros corpos já embriagados por bebidas insípidas de outros copos. É quando a gente escolhe que “não” é “não” e não adianta o “feirante” insistir. É quando a gente escolhe até mesmo pagar dobrado em função do nosso prazer, por uma mercadoria que a gente quer – um pouco da lógica popular do “mais vale um gosto do que dez mil réis”... Mas esse estágio de vida é complexo, geralmente acontece quando a gente, qual a cana, foi moída e triturada pela possibilidade de nunca perder a doçura...
Fazer escolhas é tão definitivo quanto perder ou ganhar. Ganhar, na feira da vida das nossas escolhas, nem sempre é levar pra casa o “objeto”. Algo como não se poder viver sem escolhas sabendo que elas não nos garantem a plenitude daquilo que escolhemos. O fato de alcançarmos o poder de definir as escolhas é uma vitória imensa de cada um diante de si. No geral as vitórias, as grandes maratonas, as olimpíadas, acontecem por escolhas das multidões. Multidões que conferem troféus, troféus que com o tempo ficam empoeirados e enferrujados nos escritórios dos vencedores... Nossas escolhas não. Ir pra “feira” definir nossas escolhas é como instituir troféus por dentro de nós e que irão conosco até o túmulo. De repente, não há feira livre a noite nas grandes cidades, mas nós as temos dentro de nós repletas de “mangaios” escolhidos por nós. Essa é a diferença estabelecida em nossas ressignificações do “escolher”, “ganhar”, “perder”...