AS FLECHAS
As flechas
28/02/2013
O arqueiro com movimentos seguros para uns e enérgicos para outros retira da aljava uma flecha e com extremo zelo a encaixa na corda do arco. Milimetricamente puxa a corda em um tempo que parece durar uma vida e a posiciona sobre o nariz comprimindo-o a ponto de lhe faltar o ar e deixa a flecha a altura dos olhos. Cuidadosamente mira o alvo e solta a flecha. Por um instante vira de costas para o alvo, pois já não lhe restava nada a fazer. O acertar o alvo desde o momento em que ele largou a corda do arco já não era mais uma missão que lhe cabia, mas ao volver a cabeça e vislumbrar a flecha no seu voo solitário faz a única coisa que lhe era possível torce, torce fervorosamente clamando aos céus que aquela flecha encontre o alvo. Torce para que seja na mosca, mas sabe que isto é para tiros muito precisos e flechas de alta performance. Na realidade o que ele deseja é que sua flecha atinja o alvo, não interessa em qual dos círculos. Atira mais duas flechas com a mesma emoção e zelo. As três flechas lançadas são únicas em nada se assemelhando e assim sendo elas traçam rotas diversas, umas retilíneas, outras parabólicas e outras serpenteando pelo espaço. Ao arqueiro fica a esperança de poder tê-las lançado com as singularidades necessárias a cada uma. Sabe que desde que as flechas foram lançadas, ele só podia observar e então se retira para um ponto distante que permite uma observação de forma a não sofrer com pequenas rajadas de vento, em que sua presença, se próxima, o levaria a brigar com o vento para que ele não interferisse na direção de suas flechas. Deste ponto de observação distante exerce a extrema torcida de que elas, suas flechas que se afastaram entre si, possam finalmente de novo se juntar, como já ocorrerá enquanto estavam na aljava, sabendo que isto só ocorrerá se apesar de tudo, de seus movimentos seguros, enérgicos, calmos ou tempestuosos tiverem sido suficientes para lhes dar a direção correta para que atinjam o alvo.
Lá no alvo chegando e juntas então poderão experimentar o toque de suas mãos de arqueiro calejadas por estender as cordas do arco da vida e novamente então, trazê-las para dentro da aljava em seu peito.
Geraldo Cerqueira