Eta poeminha besta...
A folha branca olha, pálida, aflita, para o escritor. Este procura na mente as palavras para a história que concebeu. Ele se recorda do enredo, da emoção e até dos vocábulos que escolheu. Mas agora os sinônimos viram antônimos, a sintaxe fica controversa, a morfologia demora a tomar forma. Os fatos não correspondem aos atos, a história vira uma estória, o fim parece sem pé nem cabeça e do começo ele não se lembra mais.
Desiste.
Resolve escrever um poema. A folha, entretanto, continua branca, pálida, vazia. E continua olhando para ele. Nada muda. Ele olha de volta para a página branca e pergunta em silêncio: “poesia abstrata?”
Como o papel não responde, resolve escrever a esmo:
Branco
Brancura
Imensidão
Imenso
Solidão
Só
Para. Está tudo mesmo sem graça. E, ademais, ele está com sono. Resolve ir para a cama. Quem sabe, um bom sono... Antes, porém, não aguenta e escreve sobre o próprio poema:
Eta poeminha besta...
A folha de papel fica quietinha, nada fala. Mas lá no fundo, eu acho que ela concorda...