Cheirinho de infância

Já não me lembro quando ou como foi a última vez que vi as imagens de minha infância na minha memória desfalecida, tento buscar às vezes figuras dos meus irmãos brincando (somos 06 irmãos, sendo 03 meninas e 03 meninos), do abacateiro que um deles conseguia subir até o topo equilibrando-se de um modo que me causava inveja, eu nunca consegui alcançar o topo... O pé de jaca, o gramado que minha mãe usava para quarar roupas... E como ficavam alvinhas... Tínhamos as roseiras... E como cheiravam bem...

Tinha também a goiabeira, o limoeiro. cada um de meus irmãos, como eu, encontravam-se interagidos em um dos cantos desse quintal. era como se buscássemos nos apropriar de uma das poucas coisas que tinhamos em abundância: diversão e sonhos, em se tratando de diversão isso não faltava, faziamos cercadinhos de restos de madeira e palitos, pegávamos bichinhos, todos os tipos de insetos e minhocas e fazíamos o nosso " jardim zoologico de insetos", e os transformavámos em cobras, rinocerontes, girafas, macacos e tudo que nossa imaginação alcançasse, tinhamos também brincadeiras de espetar as mangas e abacates que não vingavam e caiam ao chão, e então eles viravam o nosso gado, com palitos de fosforos faziamos suas pernas e chifres, meu Deus como tinhamos gado... Tudo bem que nosso gado era verde... Mas tinhamos muitos deles... Rsrs

Criávamos patos, galinhas, coelhos, cachorro, codornas, tartaruguinhas e todos esses bichinhos faziam a nossa alegria.

Me lembro ainda do chá de capim santo ou capim cidreira que minha mãe fazia... Sinto o cheiro até hoje... Às vezes percebo que não consigo controlar os pensamentos. Não sei até que ponto a memória consegue escolher do que lembrar, minha mente geralmente escolhe as partes agradáveis e faz com que um bloqueio impeça as lembranças que me entristecem, algumas dessas preciso puxar muito na mente, contudo, prefiro deixá-las lá no esquecimento.

Passados alguns anos o quintal foi se urbanizando, aquele ambiente verde foi se fechando, o cheiro da natureza se esvaindo, levando consigo também o cheiro da infância e passamos a frequentar outros lugares, a responsabilidade da vida adulta veio se aconchegando devagarinho e sem previsão de saída, e cada dia que se passava nos tornávamos eu e meus irmãos mais alheios às brincadeiras e passamos a encarar a realidade.

Alguns de nós se casaram, outros não... Alguns se separaram... Nesse caso ai fui eu...Mas tudo bem, me sinto melhor hoje! Muitos tiveram filhos também... E a nossa geração continua, não tanto infantil como alguns anos atras, eu até tento resgatar essa infância para que meus filhos possam desfrutar o máximo possível, mas lidar com a concorrência da era dos computadores não é brincadeira muito fácil. Que saudade do cheirinho da minha infância...

Jo Trindade
Enviado por Jo Trindade em 27/02/2013
Código do texto: T4162327
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