Três mosqueteiros brazucas na Caparica
Os brazucas:
Benicio, Celso e Luis Henrique (em memória)
O cenário era perfeito, o enredo também:
Três brazucas em Portugal, sem as esposas, sem as namoradas e com tudo à conhecer na terra de Camões e Fernando Pessoa, para ficar apenas em dois gênios da literatura luso-fônica.
Era um sábado e o verão estava à pleno, como se dizia por lá.
Alugamos um carrinho popular e traçamos a rota:
Vamos conhecer a Caparica, mais precisamente,a praia do Meco, onde soubemos ser uma praia de naturalistas, nudistas, peladões ou o que mais possa se qualificar nesse perfil.
Acordamos cedo, afinal não sabíamos onde era a tal praia famosa.
Um mapa nas mãos, muitas brincadeiras e amizade boa, entre três amigos dispostos a passar um sábado bem diferente, afinal nenhum de nós já havia estado em uma praia dessas.
Partimos para a aventura e logo que atravessamos a ponte 25 de Abril já tivemos que parar para nos informar sobre a direção.
Não foi difícil encontrar um português de boa vontade para nos dar as dicas, mas sem antes dar um sorrisinho maroto, quando pronunciamos o nome Meco.
Achamos estranho, mas como sabíamos que era uma praia de nudismo, as pessoas poderiam estar envergonhadas ao dar informação.
Seguimos a viagem, o sol estava maravilhoso, em junho o verão português não deixa nada a desejar para o nosso verão brazuca.
Estávamos enrolados, apesar do mapa e das informações a viagem já estava em quase 3 horas, quando finalmente avistamos a placa tão esperada:
Praia do Meco.
Mal chegamos e já vimos uma linha divisória entre os adeptos do naturalismo e os que não se sentiam assim não “naturais”, eu e o Luis Henrique já tínhamos decidido, não iríamos andar tanto por tanto tempo para não nos misturar aos peladões e principalmente, entre as peladonas.
O Celso, um cara mais tímido, não se sentiu à vontade e foi logo avisando que não seguiria para a esquerda (área dos peladões) e que ficara na linha divisória, com sua sunga normal e que nos aguardaria ali.
Tudo tranqüilo, nosso grupo era unido e respeitamos a sua opinião, mas fomos logo caminhando para o lado esquerdo e logo estávamos como viemos ao mundo.
Uma sensação bem diferente, uma excelente sensação de liberdade, me senti um índio na sua selva a caminhar livre, sem embaraços e essas roupagens que nos são impostos pela sociedade civil.
A segunda decisão foi a de dar um bom mergulho, a água parecia perfeita, bem limpinha.
Foi uma surpresa apenas quanto à temperatura, estava bastante fria, mas nada que nos impedisse de continuar, afina estava um calor enorme.
O único problema foi a saída da água, quando percebemos que nossos “atributos” estavam totalmente encolhidos, minúsculos eu diria. Rimos bastante, mas era natural, afinal com aquele gelo todo...
Caminhamos então na busca de ver belas mulheres ali, tranqüilas a desfiar suas boas formas e corpos esbeltos, estávamos na Europa e com certeza veríamos belas espécimes de fêmeas.
No início percebemos que não estávamos com muita sorte. Encontramos caminhando em nossa direção algumas coroas, daquelas bem coroas mesmo, tudo caído e geralmente com alguma criança pelas mãos. Tudo bem, afinal era só o início,a praia era extensa e com certeza ainda teríamos muitas beldades a ver naquela empreitada.
Notamos também a freqüência muito alta de camaradas, duplas de homens andando juntos, até então não ligamos, afinal nós também estávamos andando juntos, apenas não estávamos de mãos dadas.
Isso já foi um primeiro baque. Esquisito esses caras ali andando de mãos dadas, concordamos e rimos muito.
Lá pelo meio do caminho, avistamos algo mais preocupante, um enorme cão veio em disparada em nossa direção, estranho aquilo, seria um ataque?
Esse enorme cão a principio vinha junto com mais dois tipos daqueles suspeitos e de repente começou a carreira em nossa direção.
Ficamos meio estáticos sem saber o que fazer.
Luis Henrique gritou:
- Vamos entrar na água, esse FDP desse cachorro está vindo de maneira esquisita.
Não hesitamos em entrar na água e o mais engraçado é que o Luís Henrique, que estava fumando, começou a ameaçar o cão com o cigarro:
- Vem que eu te queimo seu FDP!
A cena era muito engraçada, mas na hora estávamos tensos, que situação heim?
O cão parou na nossa frente e ficava olhando fixamente para nossas “protuberâncias” e de forma que parecia faminto, tentando escolher o que lhe apetecesse mais.
A gente ali parado e rindo, mas sem estarmos muito à vontade, é claro.
Mais alguns instantes e o cão desistiu.
Pensamos:
- Deve ter achado que o almoço dele estava muito fraco”
Rimos muito e continuamos nossa caminhada.
Mas nada de vermos beldades, eram apenas crianças com as velhotas e casais de tipos suspeitos, aliás, casais Gays mesmo!
Desistimos e começamos a voltar.
Celso havia ficado na dele, ali sentado, começamos a achar que ele é que fez a escolha certa.
Na nossa volta, novamente depois de alguns minutos, que mais pareciam horas, avistamos o famigerado cão e olha que ele vinha novamente em disparada na nossa direção.
Olhamos um para o outro e dissemos:
- Pelo amor de Deus, lá vem aquele FDP novamente!
O mesmo ritual se repetiu:
O cão ali na nossa frente, nós dois cobrindo as “protuberâncias” e ele com aquela cara de quem quer escolher qual atacar.
Nisso os caras que estavam com o cão vinham chegando.
Luís Henrique, que era muito mais inflamado do que eu, não se conteve e foi na direção dos dois logo aos berros:
- Oh seus boiolas, não estão vendo esse cachorro atacando as pessoas?
Os caras se olharam e responderam simplesmente:
- Esse cão não é nosso.
Pronto, dei uma gargalhada e seguimos, fomos rindo e nos sacaneando muito sobre as furadas em que nos metemos.
E para piorar a situação, quando estávamos a poucos metros do nosso amigo Celso, que estava sentado, tranqüilo na areia, vimos que perto dele estava um casal, mas casal mesmo, uma gostosona e seu namorado.
Olhamos um para o outro e dissemos:
- Vamos correr, ali tem uma gostosona!
Apertamos o passo, mas para nosso azar, o casal já estava se preparando para irem embora, ou seja, se vestindo.
Foi por um triz, e o nosso amigo sortudo esteve o tempo todo observando a bonitona peladinha.
Dessa vez foi ele que nos sacaneou e veio contando vantagem para cima da gente.
Já era tarde, fomos procurar uma barraca para comermos alguma coisa e bebermos umas cervejas.
O nosso sábado foi realmente único, disso ninguém poderia reclamar.
Mas para finalizar a nossa saga com chave de ouro, quando chegou a segunda-feira, os amigos portugueses vieram nos perguntar onde passeamos no final de semana.
Nós três sem o menor receio fomos contando, mas fomos interrompidos logo que mencionamos o nome Meco:
- O que? Foram no Meco? Muitas gargalhas se seguiram e depois a explicação:
- Oh brazucas, vocês foram na praia dos paneleiros!
E foi uma gozação só, pela semana inteira.
Esse texto é em homenagem ao amigo Luis Henrique, mais conhecido como “cabelo”, que já partiu para outras viagens.