O PASSAGEIRO DA AGONIA
 
 
Um dos desejos mais manifestados pelo ser humano é sem dúvida, o de viajar, conhecer outras terras, outros lugares.
De uns anos para hoje ficou bem mais acessível, o que era praticamente impossível para uma pessoa comum da classe média, agora ficou mais fácil. Não se sabe ao certo se foram os preços que baixaram ou o poder aquisitivo dos pretensos viajantes que cresceu, mas isso não importa, o que importa é que muita gente agora conheceu e vai continuar conhecendo terras distantes. Seja de barco, navio ou avião.
Mas, também, existe os que viajam a trabalho, porém, no primeiro recesso do trabalho aproveitam e conhecem o lugar onde estão o que é uma maravilha. Por outro lado, existe aqueles que viajam e dizem que vão a “trabalho”, mas na realidade vão fazer uma espécie de “entrega”, os que arriscam suas próprias vidas e por uma migalha de dinheiro aceitam transportar algo ilícito, resultado, na sua maioria absoluta estão presos e esquecidos nos calabouços das cadeias.
Assisti num canal de TV pago, um vídeo que mostra os policiais alfandegários observando e detendo os possíveis “transportadores da coisa ilegal”. É deprimente, como um ser humano se submete aquela situação, nos primeiros dez minutos de interrogatório já se entregam. Nesse dia, vi com esses olhos e perplexo, um equatoriano, que chegava ao aeroporto JFK, em Nova York. Escolhido para passar no interrogatório começou a tremer, o coração batia tanto que a carótida o denunciava, por mais que tentasse fingir uma tranquilidade, mas os seus nervos o delatavam.
Começada as primeiras perguntas, ele começou a dar sua versão. Em poucos minutos já haviam confirmado três faltas com a verdade. E a cada momento a coisa ficava mais feia. Questionado se havia engolido algo para depois dispensar em solo americano o homem negava, era firme, mas em seguida se contradizia sobre os motivos que o levaram a viajar até a Índia e retornar aos EUA. Situação constrangedora. Os agentes diziam que lamentavam muito, mas infelizmente tudo indicava ser aquele senhor, um transportador de algo que ainda verificariam.
Levado para fazer um raio-X do corpo, o médico foi categórico em afirmar: “ele engoliu alguma coisa, e darei um remédio para ele expelir”. Mesmo assim o homem continuava a negar que tivesse qualquer objeto em seu estomago.
Passados algum tempo, sai o resultado positivo, havia alguns recipientes no estomago daquele senhor que com os testes podia se afirmar ser substância entorpecente.
Se no início somente a suspeita já era dolorido olhar para ele naquela situação, com a confirmação ficou pior, triste, mas era verdade.
Provocado uma espécie de diarreia o homem expeliu o que havia engolido: preservativos masculinos, isso mesmo, abastecidos com heroína, uma das mais perigosas drogas, que em pouco tempo destrói a vida de qualquer um.
Terminada a extração, chamada a polícia federal daquele país, o coitado foi entregue e encaminhado a prisão.
Imaginemos agora a situação daquele homem, viajar é ótimo como já dissemos, mas viajar com algo dentro do seu corpo que a qualquer momento poderá estourar e você morrer ali mesmo onde estiver sem nenhuma chance de ser socorrido.
Além de, desde o embarque vir passando mal, durante a viagem e ao final ser detido e posteriormente preso, não há outro adjetivo que o classifique: o passageiro da agonia. E para quê? Por dinheiro? Quanto vale a liberdade do homem? Que jogo é esse que se joga com a própria liberdade e/ou a própria vida. Um verdadeiro absurdo. O mais deprimente foi o agente alfandegário afirmar que aquilo é comum, que quase todos os dias eles pegam um tentando introduzir a desgraça da droga no país dele.
Desse tipo de “turismo” eu e muita gente dispensa, o melhor será quando todos por unanimidade dispensarem.