Vende-se gente!!!

Quando eu era criança minha mãe olhava para certo homem que passava na rua e dizia:” Lá vai o homem do olho de vidro “... Eu ficava imaginando como deveria ser lindo ter um olho de vidro... Um olho claro, azul e transparente como o mar. Uma bola de gude ali no lugar onde eu tinha apenas uma bola não sei de quê... Cresci e descobri que o chamado 'olho de vidro' era apenas uma esfera oca, encaixada sobre o que restara do olho danificado do homem do olho de vidro... Tempos depois, no meu livro de comunicação e expressão havia um texto - agora a memória falha e não me acode - ,que dizia que no ano dois mil as pessoas encontrariam joelhos à venda nas vitrines... Joelhos para todos os gostos e idades... Muito antes disso, porém, cumpriu-se a profecia e não havia somente joelhos à venda... Para comodidade dos deficientes físicos, grandes invenções como próteses de todos os tipos que viriam a lhes dar mobilidade e tornar menos difícil a vida sem seus membros amputados, mal formados,etc., e isso foi muito bom, mas mais que isso, a vaidade das vaidades exigiu e eis que invadiram as prateleiras do mercado da beleza, peitos top de linha, bundas de última geração... Basta que se ache pequenos os glúteos, pouco fartos os seios e se dê um pulo a clinica mais próxima pra fazer aquisição dos respectivos atributos no tamanho e forma desejados... Pouco depois somos apresentados ao milagroso botox que nos trouxe maçãs de rosto mais arredondadas e salientes, lábios mais carnudos e- pasme-! Bisturis machistas com capacidade de restituir –acredite! - Hímens novinhos em folha, cheirando a grinalda e flor de laranjeira, à velhas “Terezas Batista” cansadas de guerra”! Mas agora, apenas algumas décadas depois, me pergunto...O que estará à venda, daqui a 100 anos?Cérebros?Memórias? Terão nossos descendentes HD ‘s guardados em casa para o caso de serem acometidos do Mal de Alzheimer? Chegarão nossos descendentes na farmácia ou clínica mais próxima e dirão:-” Me vê aí um cérebro tipo Einstein, uma memória de Ghandi, um coração espécie Sidarta Gautama, um par de pernas um pouco mais velozes, uns braços próprios para abraços...embrulhados para presente,por favor!“ Meu Deus olharão nossos descendestes para traz e dirão:” Que povo atrasado, aqueles nossos ancestrais, eram de carne e osso, tinham alma e coração, amavam e odiavam e faziam até guerra entre si?”...Nunca achei que fosse modelo de amor o homem do presente,mas não foi essa a geração do futuro que idealizei para mim!