Viagens pelos coletivos – parte I
Vou contar dois fatos ocorridos comigo nessas tão confortáveis e tranqüilas viagens nos nossos ônibus urbanos.
O primeiro se deu numa volta para casa, não me recordo se voltava da faculdade ou do trabalho, o importante a ressaltar era que estava numa autêntica “lata de sardinhas”, no corredor do ônibus, os pés quase levitavam e se levitassem não teria mais espaço quando descesse para o chão.
O calor nem preciso mencionar, nossa cidade além de ser a Cidade Maravilhosa é a cidade que oferece de graça um SOL para cada habitante.
A viagem seguia como dava para quem estava em pé, para os sortudos sentados e para os que chegavam a cada parada entre as tantas no percurso centro da cidade e Benfica.
Quando me preparava para descer, aquele famoso e baixinho “Dá licença, por favor” repetidos várias vezes, já que eram inúmeros os obstáculos (pessoas) na minha frente.
Também querendo descer estava um rapaz alto e magro, ele ia abrindo caminho e eu atrás.
Acontece que na frente dele havia uma senhora baixinha, bem baixinha e gordinha, lá vem as gordinhas na minha história, mas era verdade, juro.
Pois bem, o rapaz que abria caminho se deparou com essa senhora, ele pediu licença mas ela parece que não ouviu, ou ouviu e não se mexeu, ou por não querer ou por não ter condições para isso.
O rapaz insistiu e pediu mais alto: “Dá licença minha senhora!”
Ela continuou na frente e como a parada estava chegando o rapaz ficou nervoso e disparou:
“Essa gorda aqui não quer sair da frente!”
Foi o que faltava para a senhora, que até então parecia uma indefesa senhora gordinha para ela se virar e começar a xingar o rapaz.
Eu atrás do rapaz na expectativa da resolução do caso para que pudesse descer.
Mas a coisa piorou quando ela falou bem alto para o marido dela, que estava na sua frente.
- Oh fulano, esse abusado aqui me chamou de gorda, dá um tiro nele!
Nisso, o senhor em questão, um baixinho magro, careca e de aparência também inofensiva, foi buscar a “capanga” que tinha na cintura, como quem vai sacar um revólver e atirar a queima roupa no rapaz.
Os passageiros ouviram aquela frase: “Dá um tiro nele” e foi aquela gritaria geral.
O espaço que não havia, como por um passe de mágica, surgiu no corredor.
As pessoas que estavam ali se jogavam em cima de quem estava sentado, inclusive eu.
Mas minha posição era ingrata, estava bem atrás da futura vítima!
Ele se esquivava em várias direções e eu era obrigado a fazer o mesmo, um pânico geral.
Eu pensei: “É agora que vou levar um tiro de graça”
O rapaz abria os braços pedindo:
“Por favor não atire!”
E o ônibus em alta velocidade fazendo uma curva bem aberta, todos se desequilibrando e gritando:
“Não!!”
Até que o ônibus parou sem que o disparo se desse.
Eu nervoso fui descendo, o rapaz ficou pálido, talvez o mais pálido de todos.
O casal “metralha” desceu no mesmo ponto que eu e para minha surpresa, a tal baixinha e gordinha reclamava com o marido:
- Seu frouxo, eu falei para dar um tiro nele!
Nesse dia fui chegando em casa e pedindo água para minha santa mãezinha, que não poderia imaginar o que seu filho acabava de passar em mais uma aventura urbana na cidade maravilhosa.
A segunda parte sairá em breve!