COMENTARISTA

     O tempo transforma a vida, que avança com a modernidade e esta com as invenções. Inventar é um processo resultante da imaginação criadora, algo que intelectualmente se desenvolve no ser pensante e, quando vinga, se estabelece na prática.

     Nos tempos modernos concorrem o bom e necessário com o modismo inútil; a carência e o excesso com o desperdício. Veja-se no campo profissional o que de novo, útil e benéfico surgiu tanto quanto o inoportuno e ineficaz. Disto surgiram os comentaristas profissionais. Eles comentam tudo e de tudo tiram proveito. Política, economia, saúde e educação são áreas de maior interesse público, mas não tão comentadas quanto o futebol, de que no Brasil há mais comentaristas que arqueólogos ou outras áreas juntas. Comentar futebol é o sonho de muitos que buscam um ganho fácil, bem remunerado, acessível a viagens e melhores hotéis, tudo por conta de alguns minutos a jogar palavras fora à frente de uma câmera ou microfone.

     Com a escalada da violência ascendeu a figura do Comentarista de Segurança Pública. Inicialmente no Rio de Janeiro; agora em Brasília e, creio, em todas as capitais onde a Rede Globo paga um bom cachê para um sujeito emitir palavras estudadas, e gesticular teatralmente sobre o mesmo tema o discurso teórico. Nada mais inutilmente repetitivo a perder-se no vazio. Piores, só mesmo a bala perdida e o sequestro relâmpago de que tudo se sabe. Em algumas situações, comentar, facultado à liberdade de expressão, profissionalizou o inútil, evidenciou a teoria e desprezou a solução.

     Outros comentaristas merecem um parágrafo: os comentaristas do Recanto das Letras; mas sobre eles não vou escrever, ou melhor, comentar. Guarde ou exponha, cada qual, a própria opinião; pois, como eu, cada qual -  ao seu modo -  é um deles.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 26/02/2013
Reeditado em 26/02/2013
Código do texto: T4160605
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