Lamentos de um soldado caído

Sempre gostei das noites frias. Sempre ficava em casa tomando uma bela xícara de café bem quentinho com os pés aquecidos em meias azuladas enquanto recitava O Corvo, de Edgar Allan Poe para Dora ao som da 9th Symphony de Beethoven. Nunca me esquecerei dessas maravilhosas noites que estive ao lado dela. Agora, sobre esse majestoso manto branco e gelado, recordo desta minha miserável vida. Consigo escutar os tiros vindos de trás das árvores, acho que está chegando a minha hora. Tento me mexer em vão, sinto o sangue descendo em minha testa. Meus olhos estão como uma janela em dias de chuva. Meu coração está tão lento e tão rápido. Minha respiração, ofegante, projeta fumaças de calor. Minha visão está turva, uma sombra humanoide aproxima-se de mim. Terei este fim tão desonrado? As trevas tomam contam de mim, enfim.

Gabryela Martins
Enviado por Gabryela Martins em 25/02/2013
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