Bixos Escrotos
Eu fui almoçar.
Já pelo caminho, passei em frente a uma república que praticava um trote nos seus bixos. Não consegui identificar de qual curso eram. Algazarra, som alto, gente pintada, uma piscina, humilhação, o de sempre, com fritas. Ignorei e segui em frente.
Chegando ao bandejão, uma fila enorme. Ah, era só para os bixos. Menos mal. Pelo vidro na fila para carregar o RA eu já via muita gente pintada lá dentro, todas juntas num mesmo canto. Passei a catraca, lavei as mãos, vi umas meninas bonitas, as quais eu nunca mais verei na vida mas é assim que ela funciona. Peguei a fila, a comida, sentei.
Alguns minutos depois, os bixos de fora, reconhecidamente como sendo do curso de medicina, entraram no restaurante universitário. O pessoal que já estava dentro, junto num canto, ergueu um coro, subiram e bateram nas mesas. Eu não entendi nada, a não ser pelo final que foi repetido várias vezes: "Chupa medicina!".
Terminei de almoçar. Na saída, já tinha gente divulgando festa: "Luau dos Bixos". Daquele jeito animalesco de sempre, empunhando banners, distribuindo flyers e fazendo uma zorra quando flagravam um bixo e o persuadiam para ir na sua droga de festa.
Peguei café e continuei o meu caminho. Passei pelo meu instituto. Algumas pessoas se confraternizavam, de leve e de maneira decente. Pelo menos não a ponto de rolar balbúrdia visível. Não, o IEL não é santo, mas as pessoas deixam para cometer suas atrocidades fora do campus ou ainda quando não tem gente passando para lá e para cá. Umas caras novas e assustadas com as novidades do lugar, esse ar de inocência de bixo é bonito. O bixo humilhado na algazarra, não. Até porque, isso gera um ciclo sem fim que, quando este for veterano, fará a mesma coisa e a babaquice, ela não terá fim, nunca.
Voltaria para casa. Peguei o circular interno. No ponto do RU, os mesmos bixos de medicina que eu vira no começo desse texto estavam todos lá. E sim, todos iriam entrar no ônibus. E assim o fizeram. Logo, começaram a entoar seu próprio canto. Os organizadores-veteranos estavam todos bem vestidos, uniformizados com uma camiseta verde com escrita dourada: "Medicina Unicamp 2013". Às costas, a mascote do curso, um leão, também dourado. Eu não lembro qual era o grito deles, só lembro apenas que "LSD" rimava fortemente com "bota pra foder".
Essa rivalidade entre faculdades, entre cursos, "ah, o meu é melhor que o seu" ou "vai se foder você que é do curso X porque eu sou do curso Y". Só eu enxergo tamanha estupidez e falta de bom senso nessas coisas? Sabe, eu me julgo muito mal: eu não me graduei semestre passado, eu tranquei um semestre, eu reprovei disciplinas, etc. Mas quando eu vejo pessoas assim, eu não consigo não deixar de ser orgulhoso e pensar: "cara, eu não sou tão ruim assim". Essa mesma galera, essa mesma high society organiza e pratica badernas mil graduação afora. Daí qualquer um vem me dizer: "oras, mas isso faz parte da vivência universitária". Eu devolvo dizendo que é mentira, eu não passei por isso, por não me identificar com esse tipo de selvageria moldada de diversão. Então, logicamente, essa mesma pessoa teria o direito e a razão de retrucar que o problema é comigo. Justo.
Na volta, passei de novo pela república e dessa vez a baderna acontecia na rua. Fazer o quê? Sempre foi assim, sempre será. Não sou eu quem vai mudar isso, e acredito que ninguém vai.
Mas que eu discordo dela, sem dúvida.