NINGUÉM TEM MEDO DO HOMEM DO SACO

As coisas mudam, evoluem e com o tempo a gente percebe que aquelas historinhas de infância só funcionam na infância. Nossa, que descoberta! Há anos que o Papai Noel não me traz mais presentes. Antes trazia coisas simples, agora nem isso. Percebo que se eu quiser comer ovo de páscoa tenho que comprar. Aqui na cidade grande, nem as galinhas botam mais, por isso não tenho cobrado dos coelhinhos, sei de que a coisa tá feia para eles também. Que saudade daqueles orelhudos! Onde morava, eles produziam ovos com gosto de manteiga – talvez fosse a qualidade da ração – Não era muito bom, mas eu comia agradecido. Aqui as coisas são muito diferentes da roça: lá as piranhas vivem n’água.

Advinha quem passou por mim agorinha? O homem do saco. Que coincidência! Do nada vejo passar por mim o terror da minha meninice. Agora não mais com um, porém com dois sacos. Aliás, haja saco para viver mais ou menos nos dias de hoje. Pensei comigo: - agora que já sou crescido é hora de me vingar. E quando ele chegou bem perto de mim, descobri que alguém já havia feito isso em meu lugar. Nunca vi tanto abatimento. No saco não havia mais criancinhas desobedientes, elas foram substituídas por latinhas, por panelas velhas, motor de geladeira... Notei que o tempo tirou o vigor daquele homem. Não é pra menos, quem aguenta carregar crianças desobedientes tanto tempo? Chega uma hora que cansa. Quis saber dele o porquê de estar assim, e olha que safado, jogou a culpa nos governantes. Retruquei: - Culpa dos governantes? - Você passa a vida toda assustando criancinhas e agora coloca culpa em quem não tem nada a ver com isso? Antes que me irritasse mais, ofereci R$ 20,00 com uma condição: a de nunca tentar levar meus futuros filhos. A situação estava tão feia que me chamando pro lado disse: “se cuide garoto para que você não precise virar o homem do saco”. - Nem a pau, pensei! Nem ele que é profissional está vivendo bem com esse ofício, para que me atreveria arriscar tal profissão?

Quer saber? Ninguém tem mais medo do homem do saco, nem ao menos é percebido na sociedade. Que sorte! Eu tenho uma câmera em meu celular, caso contrário, jamais acreditariam que o tinha visto. Nesta páscoa quero ficar bem atento pra ver se flagro um coelho botando perto de casa. Quero lhe encher de perguntas e tentar descobrir se o fato de ele não ter mais vindo me presentear é culpa também dos governantes. Não quero nem saber se a ração está cara, quero comer bem nesta páscoa, nem que seja com sabor de manteiga.

Eder Tofanelli
Enviado por Eder Tofanelli em 25/02/2013
Código do texto: T4158784
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