Ida ao cinema
Não tinha o que fazer naquela tarde. Resolvi ir ao cinema. Fazia tempo que não o fazia, além do que é sempre bom fazer algo novo. Pus meu casaco preto, despedi-me do cachorro e saí a passos largos.
Na caminhada duas vezes pétalas rosas caíram sobre a minha cabeça, não dei a elas a importância que mereciam, apenas as deixei-as cair no chão e segui. Cheguei ao cinema, pouco antes da seção das 15:00 h, entrando num filme censura 14 anos cujo título não me lembro.
Chegando ao meu lugar de costume, havia um chapéu caído no chão. Peguei-o mais com intenção de contempla-lo do que de fazer uma gentileza. A dona não percebeu isso e delicadamente pegou o acessório de minhas mãos. Ela agradeceu e comigo já sentado disse que me conhecia de vista. Perguntei onde ela morava e descobri ser bastante perto de minha residência. Como o filme não havia começado, conversamos um pouco.
Ela chamava-se Linda Stuart Arden, era filha de um inglês com uma brasileira, passou grande parte da vida na Escócia, retornando a pouco tempo para o país. Falou um pouco mais de sua vida e depois pediu que eu fizesse o mesmo. Não muito a vontade com isso, mas sem o ímpio de contraria-la, falei um pouco sobre mim. Por sorte os trailers acabaram e pude parar com a educação a meu favor.
Como estávamos próximos fizemos os típicos comentários de quando se assiste um filme um para o outro. No final a mocinha contrariou a lei da gravidade dando um salto e ficando de cabeça para baixo no ar, firmou os pés no teto e se impulsionou caindo numa pequena abertura e dando um sorriso sarcástico ao “Evil Boss” antes da bomba explodir. Depois disso beijou o galã e as letrinhas subiram.
Terminadas as considerações de final de filme, eu e Linda resolvemos trilhar o mesmo caminho enquanto conveniente. No caminho ela disse sentir-se gorda. Olhei-a de cabo a rabo e vi um corpo curvilineo nada gordo. Disse-lhe isso e ela pensou ser apenas gentileza. Não foi; dificilmente faço isso. Bem, o ser humano nunca está contente com o que tem.
Falamos de outras futilidades e após o cordial gesto brasileiro nos separamos. Cheguei em casa pouco depois e fui recebido por meu cachorro que jogou-se no chão para demonstrar que queria carinho. Subindo as escadas dei de cara com minha mãe. Ela disse que precisava falar comigo. Suspirei mas consenti.
Ela avistou uma abelha e prontamente a deu uma chinelada. Vendo minha cara de reprovação ela disse antes ela morrer do que nos picar. Incrível como ela prefere tirar uma vida do que sentir um pouco de dor.