O Coreto da Praça Central

Uma cidadezinha no interior de Goiás era bem pacata, alguns acreditavam que a cidade havia parado no tempo, o povo queria algo novo, algo que desse frescor e quem sabe tirasse a cidade do século passado, e não deu outra, na eleição para prefeito o homem jovem, que veio direto da capital com ideias novas e projetos futurísticos venceu de lavada, a partir daquele momento a história da tal cidadezinha não seria mais a mesma.

No dia de sua posse, com a voz forte, imponente e o rosto vermelho o novo prefeito Doutor Getúlio, anunciava seus vários projetos para a modernização da cidade, e o publico ali presente aplaudia cada vez mais, quem não estava nada feliz com isso era o grupo de beatas da cidade, o grupo antes composto por cinco senhorinhas fervorosas na obra de deus, agora era composto por uma dupla, Dona Joana e Dona Ana, que pensando bem valiam por muito mais que cinco.

As ideias do novo prefeito lhe pareciam absurdas, como mudar uma cidade no auge dos seus 100 anos em apenas 4? Mas quando achavam que não poderiam mais serem surpreendidas, vem a última e mais impactante (Pelo menos para elas) proposta: A modernização da praça central da cidade, uma praça bem localizada sendo o coração do centro da cidade, ao sul da praça a igreja e ao norte um belo coreto, que naquele momento era usado como palanque, que em breve seria destruído para dar lugar a várias lojinhas, Dona Joana e Dona Ana se sentiram horrorizadas com a proposta, como um prefeito eleito a 7 dias, quer destruir um patrimônio da cidade com mais de 60 anos?

O público não parecia se importar com a tal modernização da praça, aplaudiam cada vez mais alto, ate as crianças, que estavam mais empolgadas com o algodão doce de graça do que com os projetos do prefeito, Dona Joana e Dona Ana, decidiram não deixar aquilo acontecer, passados os dias ela iam de casa em casa, sob chuva e sob sol para convencer os moradores a fazerem uma passeata contra a destruição do antigo coreto, a ideia não foi bem recebida, a maioria das pessoas nem abriam as portas, pensando que Dona Joana e Dona Ana eram testemunhas de Jeová, no final da toda uma campanha, na passeata do dia da destruição do coreto, compareceram apenas quatro pessoas, as duas senhoras que defendiam ardorosamente a preservação do coreto, um casal de namorados sentados no banco da praça, além de um cachorro que se coçava na grama.

Sem ter oque fazer além de ficar a no mínimo 30 metros do Coreto Dona Joana e Dona Ana se sentaram num banco da praça, olhando perplexas para a destruição do coreto, Dona Joana se lembrava do seu primeiro beijo, escondida atrás do coreto e Dona Ana da festa de casamento da filha realizada em frente ao coreto e mostra um leve sorriso ao lembrar da filha jogando o boque de rosas brancas de cima do coreto e as flores caindo dentro de sua galinhada. A única lição que tiraram disso é que o progresso chega, mas nem sempre é necessário, que lembranças não precisavam serem destruídas, que agora se lembrariam das coisas do passado através das antigas fotos e que aquele lugar que um dia foi um ponto de encontro para fofocas, brincadeiras, festas e momentos inesquecíveis havia se tornado apenas poeira e entulho e que as lágrimas que corriam pelas rugas dos seus rostos não trariam de volta o coreto da praça central.