Ladeira da Igualdade... Será?



Subindo a Ladeira da Igualdade sob o sol quente deste dia de verão, no cortejo fúnebre a caminho da última morada física daquela que a vida me deu por tia de sangue, e por Tia Rosa de muitos mimosenses que a conheciam e a amavam em sua condição de mulher, guerreira, batalhadora, sempre feliz, reflito sobre a finitude da vida, sobre a limitação da matéria, em o quanto somos frágeis diante da grandeza do universo, das forças da natureza, dos mistérios escondidos sob o manto sagrado de DEUS.
Enquanto subimos a Ladeira da Igualdade, penso que entre o nascimento e a morte, temos um período de existência em que devemos sim construir amizades, edificar relacionamentos, conviver altruistamente, e acima de tudo, preparar nossa passagem para a morada definitiva (eterna com DEUS), pois na realidade, estamos neste mundo apenas de passagem, e como sendo, já dizia o apóstolo Paulo, imbuído do Espírito Santo, "que não devemos nos conformar com as coisas deste mundo, mas renovar a nossa consciência para o porvir".
Porém estamos nesse mundo, ... e refletindo sobre a palavra de Paulo, não pude deixar de me revoltar com a condição em que hoje, com olhos de revolta e criticidade, pude ver o cemitério onde enterramos nossos mortos.
Os muros caindo, barranco desmoronando, uma parte onde foi ampliado, não há nenhum tipo de proteção, aliás, observa-se o abandono deste local onde plantamos nossos entes queridos, onde todos igualados pela morte, somos plantados.
Então divago em minhas reflexões, numa revolta infame: Quem dos gestores passados e da atual gestão deste município deu ou dará dignidade aos que cá estão enterrados? Reformas no cemitério não rendem votos, quem morre não elege ninguém, talvez seja por isso que ele, o únio cemitério da cidade, esteja tão abandonado.
O homem depois de morto é a única semente que plantada não dá frutos, mas a morte de minha tia hoje, sendo sepultada sem grandes honrarias em uma cova simples, fez germinar em mim essa indignação ao desrespeito a todos os mortos lá sepultados.
Enfeitam praças e jardins (é justo, a cidade tem que estar bonita); a cada gestão trocam as cores dos prédios públicos (como se mudando a cor fosse apagar os vestígios da gestão anterior), mas esquecem de erguer os muros deste que é a última morada física de todos os mimosenses, esquecem de dar dignidade aos que lá vão enterrar os seus; tira-se equipes médicas, equipes de assistentes e agentes de saúde que foram treinadas, capacitadas e coloca-se novas, sem experiência nenhuma, porque aqueles anteriores foram empregados pelo gestor antigo, tudo isso independente da necessidade de se dispender novos gastos com a formação desses novos funcionários ou de ver os postinhos dos bairros (os PSF) sem atendimento médico, como temos visto.
Não, não me venham acusar de estar fazendo oposição cega e passional ao governo atual. Isso é indignação de uma mimosense que está simplesmente exercitando aquilo que o apóstolo Paulo falou, não me conformando com as coisas injustas desse nosso tempo, não aceitando comodamente as coisas que julgo erradas. Mimoso merece praças e jardins bonitos, mas precisa de um cemitério digno de receber nossos mortos, ainda que seja um ser humano simples e sem posses como a minha Tia Rosa. E enquanto vivos, temos o direito à saúde, educação, saneamento básico, qualidade de vida... Isso é condição "sine qua non" para a efetiva integridade humana.
Entre o nascimento e a morte, nossa limitada existência neste mundo é vida, e temos que dar bons frutos enquanto respiramos esse fôlego de vida, e acreditar que o que plantamos aqui é nosso passaporte para a eternidade de salvação ou a perdição eterna, de tudo o que fizermos (ou deixarmos de fazer) ser-nos-á cobrado, até mesmo o muro, a iluminação do único cemitério de nossa cidade... Vamos pensar nisso...




Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 24/02/2013
Nina Costa
Enviado por Nina Costa em 24/02/2013
Reeditado em 24/02/2013
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