A carta do Chinês 


 
 
 
            Meus amigos e amigas, não sei se é um problema da idade chegando (e como chega rápido), mas devo confessar, embora constrangido, que não consigo mais resistir a certos prazeres da minha vida. Assim é que me viciei de tal forma a comer merches do  restaurante do meu querido “brimo” Assad, que minha casa está infestada desse delicioso comestível. Quem vier a minha casa encontrará “merches” na geladeira da cozinha, na geladeira da copa e até na cabeceira da minha cama de dormir. Botei na cabeça que não devo mais resistir aos meus impulsos. Por enquanto, está dando tudo certo porque esses impulsos são mais ou menos inocentes e a família vem tolerando esse meu estado de coisas. Hoje, por exemplo, não vou resistir ao impulso do bom humor. E assim publico, às gargalhadas, a carta de um certo chinês, muito amigo do grande Machado de Assis. Não resistirei, pois!  Publico, a seguir, a carta, por dois motivos bem pessoais:  primeiro, como já disse, não resisto mais a nada; segundo porque na carta do chinês vi palavras que emprego hoje e não sabia a origem. Como os amigos vão notar,  poderão  até achar outros vocábulos que usam atualmente sem saber da honrosa origem. Uma das palavras é o termo “panaka”, cujo uso sempre abusei pra xingar alguém que não suporto. Tem "xupitó", "pavê", "pacatu", "pacatu", que acabaram originando o nosso pocotó, pocotó, pocotó.  Mas vamos ao texto antológico, do nosso maior escritor. Divirtam-se!  Eis a carta com as impressões do chinês sobre o nosso país, com algumas expressões em português, o que, segundo o Machado de Assis, o chinês se esforçava por aprender nosso idioma:
                        “Vu pan Lélio,
Lamakatu apá ling-ling "Balas de Estalo", mapapi tung? Keré siri
mamma, ulama'i tiká.
Ton-ton pacamaré Rua do Ouvidor nappi Botafogo, nappi Laranjeiras
nappi Petrópolis gogô. China cava miraka Rua do Ouvidor! Naka
ling! tica milung! Ita marica armarinho, gavamacu moça bonita, vala
ravala balvão; caixeiro sika maripu derretido. Moçanigu vaia peça
fita, agulha, veludo, colchete, iva curva trapalhada. Moço lingu istu
passa na rua, che-beru pitigaia entra, namora, rini mamma.
Viliki xaxi xali xaliman. Acalag ting-ting valixu. Upa Costa Braga relá
minag katu Integridade abaxung kapi a ver navios. Lamarika ana
bapa bung? Gogô xupitô? Nepa in pavé. Brasil desfalques latecatu.
Inglese poeta, Shakespeare, kará: make money; upa lamaré in
língua Brasil: — mete dinheiro no bolso. Vaia, Vaia, gapaling capita
passa a unha simá teka laparika. Eting põe-se a panos; etang merú
xilindró.
ltá poxta, China kiva Li-vai-pé,  abá naná Otaviano Hudson, naka
panaka, neka paneca, mingu. Musa vira kassete.
— Mira lung Minas Gerais longu senado. Vetá miná Lima Duarte
passi Cesário Alvim; mará kari  Evaristo da Veiga seba Inácio
Martins. Rebagú sara Coromandel? Teca laia Coromandel?
Aba lili tramway Copacabana. Vasi lang? Tacatu, pacatu, pacatu.
Hu-huchi edital Wagner, limaraia Duvivier. Toca xuxu Figueiredo de
Magalhães, upa, upa upa. Baba China páriú. Héh...Siba-ú lami assembléia provincial nanakaté. Mirô bobó xalu Galvão
Peixoto: ridin teca maneca cabelinho na venta. Pantutu? Hermann
limpatuba Arang chikang Companhia Telefônica ruru mamma, ipi,
xuchi paripangatu; Caminha, Magalhães Castro, xela kapa, xela
kipa, xela kopa. Neka siri lipa Câmara dos Deputados abaling. China
seca pareka amolador empala. Laka pitak? Nana pariú.
Faro e Lino papyros, biblos, makó gogó. Lino abatukamu, Faro
abatiki. Eba ú laté! Castelões zuru! Club Beethoven paka xali!
Tarinanga axá acaritunga. Harritoff dansa mari xali!
Xulica Brasil pará; aba lingu retórica, palração, tempo perdido, pari
mamma; xulica Kurimantu. Iva nenê, iva tatá. Brasil gamela tika
moka, inglês ver. Veriman? Calunga, mussanga, monau denguê.
Valavala. Dara dara bastonara. Malan drice paku. Ocuoco;
momeréo-diarê. Ite, issa est.
Mandarim de 1ª classe.
TONG KONG SING”
 
                        Ainda segundo o nosso maior cronista, o estilo é da mais profunda escola de Macau, descrevendo o nosso progresso e chegando até Copacabana: “pacatu, pacatu, pacatu”.
                         Bom domingo para minha turma querida e muita
calunga e mussanga para todos.