O fusquinha que não foi vendido nem pela metade do preço.

O FUSCA QUE NÃO FOI VENDIDO NEM PELA METADE DO PREÇO.

Educar é a solução para todos os problemas da sociedade, não porque resolve mas porque evita. Problema quando há tem de ser resolvido da melhor maneira possível e as vezes pode ter conflito com a educação, outras vezes dá para conciliar. Foi assim que em 1987 eu estava com um problemão, tinha cinco filhos e estava para nascer o sexto e ultimo. Jarinu naquela época tinha um pequeno posto de saúde que atendia cinco dias por semana até as 17:00 horas, ambulância também só existia uma e atendia no mesmo horário. Meu drama não era as deficiências do posto de saúde e sim as minhas, eu estava praticamente desempregado, sem dinheiro e com um fusca na garagem parado por defeito no carburador. Com o fusca eu fazia vendas, parei um tempo esperando grana para consertar o carburador, mas o momento do nascimento estava chegando e entrei em desespero. Precisava de dinheiro urgente para atender o momento do parto, e a solução foi vender o fusquinha, decidi vender e aquilo foi um sacrifício, o carrinho fazia parte da família, era meu ganha pão, e a alegria das crianças. Foi uma decisão dolorosa e para abreviar resolvi vender pela metade do preço. Anunciei a decisão e apareceu um comprador, parou em volta do carro, olhou, mostrou satisfação, perguntou por que estava vendendo e expliquei o assunto e que o único defeito estava no carburador. O comprador até então não se movera, quando decidiu que valia a pena fazer o negocio se aproximou e começou a tocar a lataria. De repente parou, olhou para mim como se me acusasse e apontando um local disse que ali havia um “podrinho”. Nesse momento começou minha experiência; três das crianças estavam em volta do fusca, gostavam e conheciam o carro e quando o comprador falou que achou um começo de podre, um deles disse que aquilo não era nada e chamaram para ver um buraco no assoalho, o irmão pediu atenção para o farol do carro que estava solto e caia ficando pendurado quando se passava em buraco, e assim deram a volta em torno do veiculo e mostraram tantos detalhes negativos que até eu fiquei conhecendo alguns. O interessado chegou a mim e disse que não ia dar negócio e respondi que entendia a decisão. Fiquei sem chão, era minha única saída para atender uma situação de parto, o comprador se despediu e fiquei com meus filhos que estavam todos orgulhosos do conhecimento demonstrado. Se eu tinha um filho para nascer, tinha na minha frente três para educar. Escondi meu desespero e sorrindo trouxe todos para um abração e mostrei a eles o quanto fizeram bem mostrando seus conhecimentos e que ajudaram muito aquele homem e que deveriam agir sempre dessa forma, em seguida recomendei que fossem brincar na chácara vizinha que um amiguinho estava esperando. Entrei em casa e explodi, falei com minha mulher o acontecido, reclamei da sorte, me senti fracassado, castigado e tomei uma decisão que prevaleceu por muitos anos. Acertei com minha mulher que nunca mais quando eu estivesse fazendo negócios ou conversando assunto serio com alguém, fosse permitida a presença dos “anjinhos” por perto. Voltando ao carro eu não estava enrolando o comprador, o veiculo estava à mostra, negócio é negócio, mesmo com os defeitinhos apontados o preço era excelente. No momento coloquei a educação das crianças acima de meus problemas e acredito que fiz o correto, afinal o que causou todo o embaraço foi a inteligência e argúcia dos meninos e isto não é coisa para se lamentar . O bebê nasceu, passeou no fusca e tudo se arrumou. Essa experiência me veio à lembrança quando soube de um caso mais “grave” em que um pai em condições precárias de vida, com dificuldades para sustentar a família comprou um bilhete de loteria, foi até a cidade e quando soube que havia ganho, correu para casa e percebeu que a filha caçula estava terminando de comer o bilhete. Vou levantar mais informações sobre esse caso e tendo a historia completa publico no Recanto.

danilos
Enviado por danilos em 24/02/2013
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