Cachoeira de suas mãos/Memoriais de Zocha


                            para dona Remmy/in memoriam

           Como escapar de lavar pratos? Nunca vi nada igual como a italiana dona Remmy
lavar pratos com tanto maestria . A mesa  comprida todos em derredor dela após uma longa jornada com ele durante a tarde visitando lugares onde poucos vão em aprendizado silencioso. Ele era aquele homem estranho que levantava as três horas da manhã, irrompendo as geadas,
e ia no Mercado Municipal abastecer o porta-malas do seu velho aero Willys cinza, de frutas e
verduras e antes das sete horas estava  tudo no asilo de velhinhos, da rua Lourenço Pinto, tudo
pronto para o café dos anciãos. Fazíamos grandes reuniões com ele na casa  de dona Remmy, e ela
depois de nos oferecer um delicioso e quentinho "brodo", e  uma macarronada feita
em casa com muito queijo parmezão direto da fonte do bairro italiano de Santa Felicidade
  ia posterior ao jantar  lavar os pratos e fazia questão de lava-los, sempre conversando dialogava-mos todos sobre as doutrinas cristãs, exotéricas, esotéricas, a prática  kardecista pelo qual ali estávamos com Ele,
a caridade, a difícil tarefa de se esquecer pelo outro na ação...enquanto isso ela lavava os pratos
debaixo da torneira  um a um...e os olhos de Zocha pareciam ver cascatas límpidas, cachoeiras sob pedras puras irrompiam em águas cristalinas de suas mãos...