SINGS & PLAYS
Para Chet Baker
Chest Henry Baker (Chet Baker) was born on the 23d of december 1929. He was the personification of “cool” jazz.
Estou de férias. Vivo intensamente momentos lúdicos de ócio, sem conseguir, ainda, tirar férias de mim. Vivo 48 horas por dia. Deve ser o prenúncio da aposentadoria que vem por ai. Passeio pelo quintal. Meu pé de carambola morreu. Os dezoito cágados, da minha coleção, amam-se de forma estertorosa, mas não põem ovos. Acho que todos são machos. Volto à cama. São dez horas da manhã. Pela grade da minha janela vejo as flores vermelhas do meu flamboyant. Algo caiu das flores. Despencou-se contra o céu azul, um filhote... Oh! Não! Dois filhotes de bem-te-vi.. Corri para salvá-los. Não consegui. Vinícius, o que tem nome de poeta, já os segurava pressuroso.
– Morreu, avô.
Os olhos fechados, ainda inchados pela infância, o peito começando a ficar enxofre. Não mais diriam: BEM-TE-VI. A bem-te-via, a mulher do bem-te-vi, ficou triste e durante todo o dia, não disse mais que me vira, como sempre fazia quando me via. Oh! Que poesia é essa sobre a dor da bem-te-via?!!!
Voltei ao meu quarto. Ouvi Chet Baker três dias e três noites para não pensar em português ou ter que dizer que mal te vi ou bem te vi; passei a pensar em inglês, afinal in the world, they all laughed. Lembrei tantas coisas nestes dias de trumpete! My funny Valentine, que me ensinou um crazy rhytm que passou a cadenciar e marcar o ritmo dos meus balanços, dos meus devaneios, dos meus blues; os verdes e os azuis, das minhas lembranças, das minhas ânsias, das tristezas, das certezas e incertezas, fazendo-as desaparecer vermelhas e profundamente, sempre que eu me inquietava. Enquanto o trumpete, rasgando a alma, martelava Deep purple, Zing wen the esprings of my heart. Onde andará my funny Valentine? Onde andará my friend Zing?
Anoiteceu hoje, anoiteceu amanhã e no terceiro anoitecer em trumpete... amanheceu e I fall in love too easily e facilmente adormeci. Quando acordei,era dia. Morto de cansaço sai para a rua e caminhando entre gentes, que viam e sentiam, bem ou mal, vi, bem, a tua silhueta abraçando-se a um tigre branco criado por um lover man que eu conheci no último verão, na companhia de Zing, on green Dolphin street.
Sentei-me no jardim em frente a construção do novo módulo da faculdade Maria Milza e enquanto comia um acarajé da Ana e diante daquela azáfama de máquinas, guindastes e concreto mole, menti para as minhas férias feridas: I get along without you very well.