O Inventor

Notável e intelectual. Programava conhecer o deserto, já que o mar fora decepção. Diziam dele más coisas e mais coisas fizera para que merecesse o mal dito. Preto, outro branco. Nascia em lugares diferentes a cada ano e morria por um sorriso besta de qualquer saia. “Atrelou-se ao ócio”, falou uma vez um conhecido. “Vivo de brisa”, justificou.

Inventou a máquina do amor e a exibiu no salão de inventores. Não teve visitas, mas manteve-se ali, orgulhoso de sua criação.

- Venham! É a máquina do amor! - dizia ele acenando. Ninguém.

Recolheu-a e mudou-se para o interior. Lá nas montanhas conseguiu chorar e ligou a máquina para ver se funcionava com um coração tão duro. Acoplou os eletrodos no peito e virou a chave. Nível 20. Sentiu nada. Bebeu mais e tentou o 30. Agora sim. Lembrou-se de Isabela, de Marta e da festa de reis em 83. O amor chegara e as lembranças também. Só queria amar e não aquelas coisas que tentava esquecer.

Anotou o defeito e trabalhou horas para que funcionasse corretamente. Agora através de equações conseguira eliminar as lembranças. Tentou e nada. Chorou mais.

Passou os anos e não conheceu o deserto. Não voltou ao litoral e não escreveu pra ninguém. Muito menos recebeu cartas.

Demorou muito tempo para chegar a conclusão de que o amor está nas lembranças que temos e nas que ainda podemos produzir.

Em seu epitáfio solicitou:

Morri buscando o amor, impedindo que ele me buscasse.