Catolé do Rocha
Quando se perde o sentido das coisas, perde-se o norte do caminho; quando se perde o sentido do caminho, encontram-se as coisas apenas por acaso, que sempre relembram a memória do passado. Porém, há um sentido natural, quase imperdível, para quem nasce: amar a terra onde nasceu como se ama a mãe... É com esse sentimento que os ilustres filhos de Catolé do Rocha se encorajaram a dar depoimentos sinceros sobre a definição, a fisionomia e o comportamento da sua terra natal. Aliás, erro: encorajados? Ora, em se tratando de coragem, nesse valente e forte Sertão, especialmente em Catolé do Rocha, coragem é o que não falta, apesar de temerem muito, logo cedo da vida, as noites de relâmpagos e trovoadas, cobrindo-se debaixo dos cobertores, para não espiarem, sem rosto e vestida de fantasma, a pavorosa Cruviana, medo que somente o sono, por algumas horas, encarregava-se de apagar.
Contudo, mesmo amando Catolé do Rocha, tanto eles como elas, migraram das suas casas para outras plagas, certamente afugentados pelas secas, pelas suas agruras, para superar essas dificultosas consequências. Mas, aonde foram, não deixaram de cuidar das suas catoleenses inteligências, aprimorando-se no mundo das letras, das artes, da religião, da educação, da psicologia, da psicanálise, da medicina, da história, da agronomia e das ciências jurídicas, cujos textos fazem do livro “Catolé do Rocha em muitas lentes” um conteúdo holístico: a natureza física e humana, pessoas, fatos e coisas de um todo indivisível. Segundo o prefaciador, catoleense Antonio Herman Benjamin, Ministro do STJ, “trata-se de um livro de resgate” das histórias, dos contos da infância e dos famosos educandários daquela cidade.
Escrito, num estilo poético, a obra se divide em partes que selecionam os textos segundo seus conteúdos. É um livro rico de alegre folclore, de relatos tão surpreendentes que beiram a perfeição e a beleza da ficção; personagens lendários, bem representativos da cultura e da história de Catolé; uma rica, genuína e autêntica cultura interiorana. Frei Marcelino, histórico vigário, confessor do lugar e ex-candidato a prefeito com Assis de Freitas a vice, revelou-me que, em Catolé do Rocha, havia de tudo: brabeza e frouxura; missões, novenas como também festas homéricas; trabalho e forrós de dançadores incansáveis e atrevidos, que aconteciam “até o sol raiar”, de onde saíam devotos lamentando não terem pecado e pecadores temendo por suas almas, para, depois, tornarem-se todos devotos pecadores...