Blowin' In The Wind
How many deaths will it take till he knows
That too many people have died?
The answer, my friend, is blowing in the wind
The answer is blowing in the wind.
(Trecho da Música Blowing In The Wind, de Bob Dylan)
A morte do jovem Kevin Douglas Beltran Espada, de 14 anos, durante partida entre Corinthians e San José, da Bolívia deve ser alvo de uma reflexão muito séria e profunda não apenas por parte das autoridades públicas, mas de todas as pessoas envolvidas no futebol, a partir dos dirigentes esportivos, até cada um dos torcedores.
Quantas mortes ainda serão necessárias, para que se saiba que já se matou demais?
A intolerância começa em cada torcedor, comum, que, a rigor seria incapaz de cometer qualquer atrocidade, mas que apoia os cânticos de guerra entoados pelas torcidas uniformizadas e a hostilização aos torcedores adversários.
Às vezes parece que em vez de torcer pelo próprio time, o torcedor prefere torcer contra o time adversário, regozijando-se com o fracasso alheio.
Esse clima beligerante está nos torcedores comuns, que trabalham, estudam e cumprem os seus deveres de cidadãos.
O futebol transforma em monstro o homem que, isoladamente, jamais seria capaz de qualquer ato de vandalismo, uma vez entorpecido pelas massas.
Aldous Huxley, em seu livro “Demônios de Loundun”, em 1952 já descrevia o entorpecimento das massas como o mais perigoso caminho de transcendência descendente, comparável aos mais perigosos tóxicos e um poderoso instrumento de manipulação que foi utilizado pela Igreja na Idade Média, que tem, atualmente, na televisão o seu maior propagador.
Mas as Torcidas Organizadas fazem esse papel de entorpecer os torcedores de futebol.
Nelson Rodrigues, inspirado em Carl Marx, afirmou que o Futebol era o ópio do povo, transfigurando e transformando seus aficionados, fazendo-os esquecer dos problemas do cotidiano, mas, ao mesmo tempo torná-los extremamente sugestionáveis.
É por isso que é preciso tomar uma atitude drástica, eliminando as frutas podres que contaminam todas as demais.
Não sou contra as torcidas organizadas. Sou contra os subsídios que elas recebem das Diretorias dos Clubes, atraindo “desocupados” que se transformam em torcedores profissionais.
O cidadão comum normalmente trabalha e não possui disponibilidade para viajar visando assistir os jogos dos seus times em outras cidades, estados ou países, principalmente quando tem que arcar com todos os custos.
As torcidas uniformizadas recebem dinheiro e ingressos dos clubes, além de subsídios para as viagens. Muitos integrantes das torcidas uniformizadas são verdadeiros cambistas, pois vendem caro os ingressos que lhe são graciosamente cedidos pela Diretoria dos Clubes.
A possibilidade de pessoas com aptidão criminosa integrarem os quadros de torcidas uniformizadas é muito maior do que em outras circunstâncias.
“Quando duas ou três pessoas se reúnem em meu nome, lá estarei Eu entre elas”.
“Mas entre quatro, dez, vinte pessoas, a presença de Deus se torna mais problemática” (Aldous Huxley, em “Demônios de Loundun”)
Como eliminar as torcidas organizadas?
Basta parar de alimentá-las.
Os Clubes de Futebol devem direcionar a concessão de vantagens para o sócio torcedor, inclusive com benefícios para viagens nos jogos realizados em outras localidades e parar de alimentar o monstro que são as torcidas uniformizadas.
Isso irá acabar com a violência?
Talvez não, porque dentro de cada torcedor deve haver uma mudança de atitude, com a compreensão de que o torcedor do time adversário não é um inimigo.
A compreensão de que a felicidade alheia não deve ser motivo para a nossa raiva e nem o fracasso alheio razão para a nossa alegria.
A compreensão de que uma partida de futebol deve ser um espetáculo apenas e que a vitória ou a derrota são meras casualidades.
A compreensão de que duas pessoas com camisas de clubes diferentes podem perfeitamente sentar-se um ao lado do outro, torcerem cada um pelo seu time e se abraçarem como irmãos.
Enquanto isso não for compreendido, mortes como essa continuarão a ocorrer.
A resposta, meu amigo, está soprando ao vento.
Janeiro de 1992 - O torcedor Rodrigo de Gásperi, de apenas 13 anos, morreu ao ser atingido por uma bomba caseira dentro no estádio Nicolau Alayon durante um jogo da Copa São Paulo de Juniores. Ele era membro da Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians.
Setembro de 1994 - O torcedor Paulo Sérgio Elias, de 31 anos, foi baleado e morto quando deixava o estádio do Pacaembu após o primeiro jogo da final do Campeonato Brasileiro entre Palmeiras e Corinthians. O crime foi na Avenida Henrique Schaumann, a poucos quilômetros do estádio. Vanderlei Ricardo Lopes, integrante da Mancha Verde, principal torcida organizada do Palmeiras, foi identificado como o autor do disparo.
Abril de 1995 - O torcedor Anderson Lins de Medeiros, de 16 anos, foi morto no caminho do estádio do Pacaembu, com a pretensão de assistir a um jogo entre São Paulo e Palmeiras.
Agosto de 1995 - O torcedor do São Paulo Márcio Gasparin da Silva, de 16 anos, foi espancado por torcedores do Palmeiras no gramado do Pacaembu após uma briga generalizada na final da Supercopa de Juniores. Ele morreu após levar uma pancada na cabeça. O caso que ficou marcado e deu início ao fim das torcidas organizadas em São Paulo.
Agosto de 1995 -Torcedores de Vasco e Santos brigam em São Januário. O confronto terminou dentro de campo, com torcedores usando paus de bandeiras como armas.
Abril de 2000 -O corintiano Vagner José de Lima, de 18 anos, morreu ao levar um tiro no tórax durante uma briga entre torcedores do São Paulo e do Corinthians. O torcedor era membro da Gaviões da Fiel.
Maio de 2000 - O torcedor Alan de Almeida, de 22 anos, foi assassinado durante um confronto entre torcidas de São Paulo e Santos na Via Anchieta. Alan era membro da Independente, principal torcida organizada do Tricolor Paulista. Alan ia para Vila Belmiro prestigiar o clássico.
Dezembro de 2000 - Vasco e São Caetano decidem a Copa João Havelange em São Januário. Uma briga entre torcedores vascaínos após uma discussão sobre Romário faz romper o alambrado. Centenas de torcedores ficam feridos. O jogo precisa ser interrompido.
Maio de 2004 - O corintiano Marcos Gabriel Cardoso Soares, de 16 anos, foi espancado por integrandes da Mancha Verde próximo à Estação Barra Funda, antes do jogo Corinthinas e Palmeiras. Ele morreu horas depois. Marcos não pertencia a nenhuma torcida organizada, ia para o estádio sem a camisa de seu clube, mas estava com alguns corinthianos, quando se deparou com um grupo de palmeirenses onde houve o confronto e foi espancado.
Setembro de 2004 - O tricolor André Silva Feliciano, de 17 anos, morreu após recebeu um tiro no peito na Avenida Tiradentes, próximo à Estação Armênia do Metrô. Segundo a polícia, o disparo foi feito por torcedores do Corinthians. Morador de Guarulhos, Feliciano estava em um ônibus da torcida Independente que foi cercado por sete carros. Tiros foram disparados, e um deles atingiu o são-paulino.
Julho de 2005 - Um torcedor do São Paulo morreu baleado antes do jogo contra o Atlético-PR, pela final da Libertadores. Segundo a Polícia Civil, Ricardo Pires da Silva, 32, foi atacado por dois homens que estavam em uma moto, quando caminhava, junto com um amigo, ao estádio Cícero Pompeu de Toledo --o Morumbi-- pela avenida Morumbi, zona sul de São Paulo.
Outubro de 2005 - Wilson Pompeo de Araújo, de 29 anos, morreu na saída do estádio Luso-Brasileiro, no Rio de Janeiro, após o jogo entre Botafogo e Palmeiras. O torcedor alvinegro correu em direção aos policiais para pedir ajuda tentando escapar de uma agressão, mas acabou sendo confundido pelos PMs com um dos agressores.
Outubro de 2005 -O palmeirense Diego Lima Borges, de 23 anos, morreu após ser baleado em uma briga de torcidas organizadas na Estação Tatuapé do Metrô, antes do clássico entre Palmeiras e Corinthians. A briga foi marcada pela Internet.
Outubro de 2005 -O torcedor Wellington Moraes, de 25 anos, morreu ao receber um tiro na cabeça após ser surpreendido no Largo 13, em Santo Amaro, por um grupo de palmeirenses após o clássico entre Palmeiras e Corinthians.
Outubro de 2005 -Anderson Tomás, de 26 anos, morreu durante a distribuição de ingressos para o jogo remarcado entre Ponte Preta e São Paulo. O torcedor da Macaca teve traumatismo crânio-encefálico após ser agredido por membros da Independente, principal torcida organizada do São Paulo
Março de 2012 - Andre Alves Lezo, de 21 anos, integrante da torcida organizada Mancha Alviverde, levou um tiro na cabeça e morreu, depois de um conflito com a Gaviões da Fiel marcado pela internet.