YOANI, UM TIRO NO PÉ DE CUBA E DA ESQUERDA BRASILEIRA
Durval Carvalhal
Nina Rodrigues foi um médico racista; chegou a defender a extinção da raça negra para a supremacia da raça branca no Brasil. Sobre ele, Guerreiro Ramos, em Sociologia Crítica, aconselha: “A melhor homenagem que podemos fazer a Nina Rodrigues é silenciarmos sobre sua obra”.
Nos meados da década de 70, a ditadura militar, no Brasil, chegava ao seu apogeu: massiva propaganda, falta de liberdade, muita censura e perseguições.
Na Faculdade de Economia da Ufba, quando a oposição ao diretório acadêmico adentrava a sala de aula para discursar, aconselhava minha turminha a não dar atenção aos discursos. Ficávamos conversando baixinho, mostrando desinteresse. Não há nada mais terrificante para um orador do que perceber desinteresse da plateia. Era gostoso saborear a frustração dos oradores diante da nossa indiferença.
Nos comícios do MDB em Salvador, guarda chuva de todos que condenávamos a ditadura, seja na Praça da Sé, Praça Castro Alves ou Campo Grande, o nome mais pronunciado, ainda que criticamente, era o de ACM. Ele até, certa vez, esnobou: “Eles é que fazem propaganda de mim”.
A jornalista e blogueira cubana Yoani Sanchez, segundo especialistas em política internacional, não é muito conhecida em Cuba, haja vista não ser possível acessá-la no território cubano e nem é financiada por órgão internacional nenhum; ganha dinheiro como jornalista.
Depois de anos de luta, conseguiu sair do seu país para visitar outros povos. Começou pelo Brasil, tão adorado pelos cubanos, segundo constatei. No dia 18 de fevereiro, no saguão do aeroporto de Salvador, foi recebida com animosidades por militantes contrários a sua presença na Bahia. Já em Feira de Santana, onde foi participar de eventos sobre a liberdade de expressão e assistir à exibição do documentário do cineasta baiano, Dado Galvão, intitulado “Conexão Cuba x Honduras”, foi vítima de violenta manifestação antidemocrática de pessoas presentes, que a constrangeram profundamente. E apesar de acompanhada pelo respeitável senador Eduardo Suplicy, foi vaiada, achincalhada, desmoralizada, difamada e impedida de ver o documentário.
Como defesa, apresentou argumentos que realçaram suas críticas politicas ao seu país; que lhe deram mais visibilidade internacional; que reforçaram os altos valores democráticos e deram um tiro no pé da esquerda brasileira, que tanto lutou pelas liberdades no País:
“Será uma grande alegria para mim se um dia, em Cuba, as pessoas puderem se manifestar desta maneira” [...] “Vim para aprender com vocês”. [...] "Viva a democracia, quero também essa democracia no meu país".
Política é a ciência das ideias, e uma ideia é melhormente combatida com outra melhor. De que vale bater um pênalti com violência, até derrubar o goleiro, e não fazer o gol? O ser humano é o privilegiado da Inteligência, mas nem todos sabem usá-la com eficiência e sabedoria. É a vida!