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A responsável Pela Linha Está?


É sempre assim: atendemos um telefonema cujo número não identificamos - geralmente, com ddd de São Paulo. Por que, meu Deus, ainda caio nessa? Bem, talvez porque eu sinta consideração pelas pessoas que trabalham com televendas. Fico imaginando as grosserias que elas precisam ouvir ao longo de um dia de trabalho, e no quanto deve ser difícil vender alguma coisa por telefone! Enfim, de vez em quando, é bom ser gentil - mesmo que não estejamos interessados em comprar nada.

E esta era de uma companhia de seguros:

- Alô!
-Bom dia, senhora! Com quem estou falando, por favor?
-Quer falar com quem, por favor? (É sempre bom dificultar um pouco as coisas).
-Gostaria de falar com o responsável pela linha telefônica!
-Ele não está. Está trabalhando no momento.
-E a senhora poderia estar fornecendo o número do telefone do trabalho dele, senhora?
-Não estou autorizada para tal.
-E não tem uma outra pessoa, dona da casa, que possa estar respondendo pelo responsável pela linha?
-Não, só eu.
-E a senhora seria?...

Ela quer saber quem eu sou, mas tenho a impressão de que se eu der o meu nome verdadeiro, estarei perdida!  Mas se eu der um nome inventado, da próxima vez que ela ligar, poderei dizer sem culpa: "Aqui não tem ninguém com esse nome!" Portanto, minto: 

-Meu nome é Luiza.
-A senhora é a dona da casa?
-Não, sou a empregada! Quem está falando?
-Bem...

Ela parece pensar por alguns momentos. Para não perder tempo, acho, ela resolve continuar a conversa; afinal, quem sabe, ela consegue vender um seguro para a empregada?

-Bem, senhora Luiza, eu sou da companhia de seguros 'X', a senhora tem alguns minutinhos para me escutar?
-Se não demorar muito...
-Eu tenho uma gravação sobre as vantagens de estar adquirindo um seguro pela companhia 'X', a senhora pode ouvir?
-Tudo bem, mas não vou comprar nada!
-Não tem importância, senhora Luiza. Posso colocar a gravação?

E antes que eu responda, uma voz masculina começa a falar sobre as vantagens de se obter um seguro de vida da companhia 'X.' Descubro que para mim, não existe vantagem nenhuma, pois só receberia se estivesse morta ou sériamente acidentada. Ao final da gravação, ela volta a falar comigo:

-E então, senhora Luiza? Vai adquirir o nosso seguro?
-Não. Obrigada.
-Mas senhora Luiza, a senhora estará protegida em caso de acidentes, assaltos, doenças...
-Eu tenho plano de saúde.
-Mas e se o plano de saúde não cobrir todos os tipos de doença?
-Eu posso usar o SUS.
-Mas a senhora há de concordar comigo que o atendimento pelo SUS pode demorar e ser ineficiente!
-Daí eu  tento um empréstimo bancário!
-Mas e se ele não for concedido, senhora? E os juros, a senhora sabe...
-Bem, então eu acho que terei que usar meu plano funeral.

Silêncio do outro lado da linha.

-Senhora Luiza, a senhora pode estar dizendo por que não quer fazer um seguro conosco?
-Posso, sim; não estou interessada?
-Mas não está interessada por que?
-Porque estou desinteressada!
-Mas senhora, por que?...
-Escuta, moça, meus patrões não estão em casa, eu ganho salário mínimo, e...
-Mas a senhora disse que tem plano de saúde! Como a senhora paga?
-Meu patrão paga para mim!
-E ele não estaria interessado em estar adquirindo um seguro de vida para a senhora?
-Bem, tenho certeza que não! Agora eu preciso desligar, porque o almoço tá no fogo.

Irritada, a moça responde, após um longo suspiro:

-Tudo bem, senhora Luiza! Espero, sinceramnete, que a senhora não precise nunca do nosso seguro de vida! 

tu,tu,tu,tu.,tu...

Agora, a nova modalidade de venda de produtos e serviços, chama-se rogar praga  ao ex-futuro-cliente.

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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 21/02/2013
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