Noite de Natal. Mil luzes, mil comidas, mil bebidas, mil demonstrações de afeto fora de hora. Um acelero desmedido, um nervosismo tomando conta de tudo. Algo estava para acontecer. Certamente haveria uma mudança radical em tudo e em todos. Algo que justificasse tamanha euforia. Possivelmente o mal desapareceria e o bem seria vencedor. Ou talvez a dor sumisse e o riso pregasse em todas as bocas. Certamente a desigualdade social tão gritante desse lugar a uma igualdade fraterna. De repente, a senhora bonita num carrão deixaria passar a lavadeira que se apressa para entregar sua trouxa de roupa. O doutor, convidaria o porteiro para tomar uma pinga, a mocinha trocaria chapinhas com a filha da doméstica. E, de quebra ainda diriam " Feliz Natal". A acreditariam naquela mudança de hábitos tão repentina, mas tão efêmera. De repente todos seriam solidários, humanos, gentís e vestiriam a capa da bondade. Gentilezas distribuidas à granel. É o milagre do Natal.
Não entrei na loucura coletiva. Simplesmente sabia que no outro dia tudo estaria como antes. Onde teria parado aquele monte de comida, de bebida, de carinhos? Só me resta pensar se conseguíssemos dividir em dias e dias tudo que foi desperdiçado, o quanto seria mais justo. Se conseguíssemos ver o outro não apenas nesse dia, como seria bom.
Mas, infelizmente Natal é só um dia por ano, contra 354 de não natais.
Que Jesús possa nascer a cada dia...Como seria bom!