O Abrigo
A vida no abrigo dos “velhinhos” para na cama, no sofá
e na cadeira sobre rodas. Não importa o sol da manhã ou o mormaço da tarde, os movimentos das folhas nas árvores. Nada importa!
Nos monólogos envelhecidos, os pensamentos dos idosos não precisam de sol nem de vento. O desgaste dos ossos combina com a mente de loucos.
Bocas abertas e olhos fechados acusam a ausência dos amigos e parentes. Sorrisos desenfreados, em alardes, procuram por milagre.
O corpo estendido na poltrona denuncia quem abandona. Soro na veia substitui flocos de aveia. A dedicação anônima põe em xeque os amigos ausentes.
Às vezes, um grito interrompe os outros gritos. É a Festa da Papa! Do suco, ou da sopa? Não importa: tudo é importante quando a vida é pão, água, café, leite e refrigerante. Se as pernas não suportam o corpo, quem garante e a cama e no baile do chinelo e o pijama, a camisola é roupa de fama. Se houver culpado, choro e oro ao criador.
– Meu Deus! Por que a morte se atrasa?
Eu, candidato ao mesmo fim, à noite, rezo preocupado com a velhice que se aproxima de mim. Estarei numa acolhida de amigos, ou num abrigo de descanso de descaso? Viverei entre parentes ou entre parênteses? Ah! quem sabe a vida não me dê tempo para descobrir...