Além
Há muito já não via sentido na vida, não via sentido em acordar todo dia pela manhã e ter que simplesmente sobreviver pelo dia todo.
Já se cansara de ter que fingir que gosta de fazer as coisas, de fingir que gosta de algumas pessoas. Cansara-se de ser ele mesmo, com sua vidinha medíocre e monótona.
Era enfadonho procurar distrações para tirá-lo da sua realidade, ou simplesmente dar-lhe um toque de algo que valesse a pena.
Nada mais tinha o mesmo sabor, os rostos já não eram tão atraentes, as cores não estavam tão vivas, as personalidades já não agradavam tanto.
Ultimamente, tudo lhe estressava e feria profundamente, parecia que tudo conspirava contra ele, como se o mundo tivesse se unido em um acordo de atrapalhar-lhe os planos.
Depois de pensar seriamente, por dias, chegara à conclusão de que tinha que tomar uma atitude, fazer com que algo mudasse na sua existência.
E tudo isso lhe trouxera ali. Há mais de 200 quilômetros longe de casa, estava na beira de uma ponte, a quase cem metros de altura. Tomara uma atitude radical, resolvera ter um pouco mais de adrenalina.
E esquecendo-se de todos os problemas, de todos os julgamentos pelos quais passara, de todos os desagrados da vida, pulou.
Olhando para o que parecia ser o infinito abaixo de si, sentiu-se livre de tudo aquilo que o prendia, de tudo aquilo que lhe fazia mal. Sentiu-se realmente revigorado, realmente bem.
Foi tomado pelo susto quando o equipamento preso os seus pés o puxou novamente para cima, fazendo-o voar ascendentemente.
Havia resolvido realizar seus sonhos, aventurar-se em coisas que não tivera coragem, desprender-se dos freios que o prendiam à inutilidade. Ser livre, em suma.
Praticar bungee jumpin sempre fora um sonho, e resolvera começar por ele.
Depois de ser “recolhido”, aventura finalizada, voltando ao hotel começou a ver algumas coisas com outros aspectos. Começou a pensar que talvez o problema não fosse ele e a sua existência insignificante, mas sim a insignificância que lhe era imposta perante o padrão de valorização.
Um leve pensamente aflorava na sua mente, algo ínfimo, mas existente: talvez ainda houvesse tempo para ser feliz.