É Brasil


(ou pequena crônica de um povo da Linha debaixo do Equador)


Nada é mais Brasil que a conversa ao pé do ouvido, sobre quem não está com os pés por perto.

Ou será a roda de cerveja no bar, onde tudo se resolve: da violência urbana à crise dos mísseis coreanos.

Mas Brasil, Brasil mesmo é torcer no estádio, xingar o técnico de burro e a mãe do juiz de meretriz – a quem diga que é verdade; pura maldade do povo.

E qual é o brasileiro que não vota errado, deixando para a última hora a escolha do candidato?

- Cadê a lista de nomes, meu bem?

- Vota no de sempre, amor, não muda nada mesmo!

E o café depois do almoço, quente e gostoso, ou frio e sem açúcar quando na rodoviária ou no restaurante barato que serve prato feito de arroz, feijão, bife e chuchu?

Quer ser brasileiro? Então assista a uma novela o ano inteiro e depois emende outra e mais uma, esquecendo-se de olhar para a própria vida, que é uma novela sem graça, sem enredo ou efeitos especiais.

Nada é mais tão Brasil do que fila em banco, mercado, repartição, loteria e açougue. Brasileiro adora fila. Temos fila para nascer e até uma para morrer, que a gente não quer que ande, mas que rapidamente, a cada segundo, leva mais um por bala perdida, veia entupida, dor de barriga, acidente em estrada esburacada ou qualquer outra desgraça natural ou artificial.

E Brasil é reclamar sem levar nada a sério.

E Brasil é carnaval, samba, futebol e agora o caçula: o etanol; “êta nós”, gente, povo, cara do Brasil...