Tempestade à vista!
Toda vez que está se formando uma tempestade, parece que volto no tempo. Lembro-me de quando tinha cinco ou seis anos, ainda não estava na escola, e até escuto as palavras de minha mãe. Ela falava bem alto:- Corre, Deyse! Esconde as tesouras e facas nas gavetas e fecha bem elas. Eu obedecia correndo. Ela dizia isso porque acreditava que esses objetos atrairiam raios. Enquanto isso, minha mãe colocava toalhas grandes, de cor azul bem escuro, nas janelas da casa toda. Daí eu ia para o quarto dela, cuja janela já estava com sua veneziana de madeira bem trancada. Entrava em baixo das cobertas e ficava bem quietinha. Ouvia com muito medo os trovões e ficava aguardando o momento da tempestade se findar. Minha mãe acendia uma vela e ficava orando em frente a um quadro de santo que havia numa parede da sala. Toda casa de descendentes de italiano tinha um quadro de santo em uma ou mais paredes. O tempo passou. Hoje eu fico encostada à minha janela descoberta de cortinas, vendo a tempestade chegar. Vejo os raios, ouço o estrondo dos trovões. As águas caem verticalmente ou na diagonal, sujeitam-se à vontade dos ventos. As enxurradas se avolumam e rolam nas sarjetas. As pessoas, com ou sem guarda-chuvas, passam apressadas ou se escondem em baixo de alguma cobertura. Os carros, com seus faróis acesos, transitam devagar. Eu assim permaneço até tudo cessar. O céu começa a clarear e até um sol meio atrapalhado volta a brilhar. Pena que hoje é raro eu poder ver um arco-íris.
Toda vez que está se formando uma tempestade, parece que volto no tempo. Lembro-me de quando tinha cinco ou seis anos, ainda não estava na escola, e até escuto as palavras de minha mãe. Ela falava bem alto:- Corre, Deyse! Esconde as tesouras e facas nas gavetas e fecha bem elas. Eu obedecia correndo. Ela dizia isso porque acreditava que esses objetos atrairiam raios. Enquanto isso, minha mãe colocava toalhas grandes, de cor azul bem escuro, nas janelas da casa toda. Daí eu ia para o quarto dela, cuja janela já estava com sua veneziana de madeira bem trancada. Entrava em baixo das cobertas e ficava bem quietinha. Ouvia com muito medo os trovões e ficava aguardando o momento da tempestade se findar. Minha mãe acendia uma vela e ficava orando em frente a um quadro de santo que havia numa parede da sala. Toda casa de descendentes de italiano tinha um quadro de santo em uma ou mais paredes. O tempo passou. Hoje eu fico encostada à minha janela descoberta de cortinas, vendo a tempestade chegar. Vejo os raios, ouço o estrondo dos trovões. As águas caem verticalmente ou na diagonal, sujeitam-se à vontade dos ventos. As enxurradas se avolumam e rolam nas sarjetas. As pessoas, com ou sem guarda-chuvas, passam apressadas ou se escondem em baixo de alguma cobertura. Os carros, com seus faróis acesos, transitam devagar. Eu assim permaneço até tudo cessar. O céu começa a clarear e até um sol meio atrapalhado volta a brilhar. Pena que hoje é raro eu poder ver um arco-íris.