...(De) Lírios!
Talvez agora a contagem seja regressiva. É hora de retirar os excessos e priorizar os sucessos. Há muitos campos inexplorados ainda. Mas fez-se o que foi possível fazer sabendo que nada tem gosto de definitivo. Apenas momentos definidos deram contornos saborosos à vida que seguia em curva ascendente e, agora, descendente. Tudo que excede o inconsciente social deve ser refletido. Há uma moral estranha às normas internas ditadas pela emoção do sentir. Dela toma-se consciência à medida que os anos pesam no corpo e na mente. As rugas de expressão evidenciam a natureza apaixonada do ser que sorvia tudo com gosto de quero mais. O querer foi sendo filtrado fazendo surgir à mansuetude dos gestos, priorizando o lado espiritual do ser. Neste caminho muito se deve aprender mesmo sabendo que se morrerá sem tudo aprender. A morte não assusta tanto quando é compreendida como um momento natural do ser. O gesto de morrer, como disse o espiritualista Xavier terá de ser aceito e talvez doa por conta dos excessos, não do sucesso. Do terreno do querer passa-se ao terreno do que se possa desejar ainda, agora, com mais lucidez e calma. Amores foram vividos, gerações deixadas através do ser. Perpetuação da espécie, talvez. Ou necessidade espiritual de acolher aqueles que precisaram voltar ao corpo físico. São hipóteses que diagnosticam em racionalidade a vida. Em meio a elas um verbo fez-se carne e habitou entre nós trazendo a concepção de ressurreição e de um juízo final para quando voltar a ser mais que um verbo carnal. Um verbo espiritual que transcenderá a racionalidade física e espiritual do humano ser que nos abriga. Um verbo que quebra o paradigma da beleza atual e de todos os tempos, ao dizer: olhai os lírios dos campos, nem mesmo Salomão em toda a sua gloria se vestiu como um deles. Sapiente olhar que convida a simplicidade natural das flores. O mundo corre apressado maltratando a natureza e talvez não se tenha tempo para apreciar os lírios. No olhar acelerado o expectador, no mundo globalizado, cultua jardins criados pelos cibernautas. Não são flores de plástico. São imagens criadas a partir da realidade concreta, fotografada. Só esteve lá aquele que registrou. Os demais imaginam a imagem posto que seja bela e cheia de matizes. Um convite a conhecer, talvez, o berço dos lírios do campo. Quanta delicadeza impera na feitura desta espécie tão frágil como a existência humana, que dela não se apercebe até que morra o lírio. Morte de cruz que humilha. E, quem sabe, Ele pouse o olhar sobre o humano e novamente diga: Olhai os lírios do campo!
Liliane Prado
(Exercício Literário)
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(Exercício Literário)
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