O Menino e o Trem

5inco horas da tarde em Tapera (Bonança), sentado num banco da estação, um menino o trem espera.

O trem se aproxima devagarzinho, comendo brasa e soltando faísca e com suas rodas de ferro rangendo os trilhos. Mal e o menino logo embarca, em meio ao vapor e ao fogo, recebe lenha e água, a Maria Fumaça.

Agora, o menino na janela da 2ª classe, ansioso e de face destemida, acha que o tempo não passa, mas logo se acalma, pois não demora muito e um sino na plataforma anuncia a partida!

Chegou a hora tão esperada. O maquinista, de sua cabine, ajeita seu quepe e puxa a corda do apito. Com um sorriso aciona a alavanca de velocidade, e a locomotiva dá início à saída da cidade.

O trem só tem 6eis vagões, a viagem é de apenas 2inte minutos, mas o menino, aos 8ito anos, acha que o trem de ferro e madeira é de brincadeira.

Começa a viagem. O trem atravessa o pontilhão, e quando do Arruado se aproxima dá um apito longo e alto para avisar o perigo de quem por sua frente tentar passar. As mulheres carregando água na cabeça acenam para o trem e o menino responde achando que elas acenam para ele também.

Passa sua casa, o Riacho do Cajá, o campo de futebol, a Fazenda Santa Rita, os bois, os cavalos, os engenhos, os sítios, as granjas, as curvas, as montanhas, os ônibus e caminhões, as pessoas andando na banqueta da pista, os cercados, as pontes, os rios, a pedreira de Itamatamirim.

Nesse momento, o trem atravessa para o outro lado, por baixo da pista. O menino não aguenta mais ver tudo aquilo de sua janela, aproveita um descuido do fiscal, levanta-se e senta-se na escada de entrada de passageiros. Chamava-lhe atenção o pino que conecta um vagão ao outro, a cada freada ou acelerada acha que eles irão se soltar.

Depois, começa a tentar alcançar com as mãos e pés, as pedrinhas da linha, os dormentes, as águas sob os pontilhões, as rochas e o mato que se aproximam em cada curva. Sacolejando pra lá e pra cá, pra cá e pra lá, tudo o trem ultrapassa, fazendo barulho e jogando fumaça.

Chega o entardecer e o sol vai se pondo deixando a montanha e o céu coloridos. O menino, sem piscar um olho, vê tudo ficar da cor de ouro. Nisso o fiscal aparece, deu-lhe uma pequena bronca e o mandou-o voltar ao seu lugar.

Pronto, anoiteceu e tudo sumiu: sua casa, sua mãe, os irmãos, o Arruado, o campo, os bois... Mas, não faz mal, o trem atravessou a Ponte do Dique e as casas começam a querer entrar nele, afinal, chegou em Vitória! Que Glória!

Agora, vai encontrar a vó Alice, os tios e os primos. Depois do café, feliz, brincar com seus amigos na Praça da Matriz. Amanhã vai vender fósforo na feira para ajudar sua mãe e irmãos. O menino sorri... E desembarca na estação. E o trem segue sua viagem ao sertão!