Um condenado a solidão

Andando os canteiros de obras da vida, em algum dia do mes de setembro, encontro um amigo, em meio a Praça da Solidão. Estava a caminho do Cadafalso, na iminência de purgar seu passado, todo feito de ternura e devoção, ao um amor que, lhe perpetuara a vida.

Hoje, o encontro no corredor da tormenta, vomitando a angustia que, lhe faz sangrar a alma. E, sob o meu olhar de amiga, o vejo, agora, como se fora um miseravel, vitima de um flagelo humano que lhe estanca a vida, lhe quebra o animo de continuar vivendo, pois neste instante, de coração partido, alma ferida, anda como um zumbi, cabaleante, embriagado de dor...

Ao ver-me, ali tão próximo, de mãos estendidas, coração e alma prontos para abraça-lo, vejo nos seus olhos insones, sem brilho, sem percepção de futuro, inseguro, sem abrigo, sem consolo... era ele, apenas, uma bizarra figura, um trapo... humano.

Em silencio, o abracei ali, bem perto do ataúde, daquele envolocro, em madeira talhado, que acolhe o corpo frio, inerte do amor da sua vida e, que vai levar o que restou da sua amada: um corpo inerte, frio, morto.

Tomando-o, pelo pelo braço o conduzi, coitado, a olhar pela ultima vez o seu amor... e, como quem, prestes está de um colapso nervoso, em forma de oração, na mais dolorosa súplica exclama: com as forças que ainda, como por um milagre, lhe restam: " Piedade meu Deus, não poupes, quem assim, está ferido"....

Mas, Deus é Pai, não um Carrasco,... e o velho e querido amigo, por mim amparado, me confidencia: " amiga, como vou viver de agora em diante, assim, sendo, apenas, metade..."

Josenete Dantas
Enviado por Josenete Dantas em 19/02/2013
Reeditado em 02/01/2015
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