VANTAGEM DE PRISIONEIRA

No início da madrugada de 19 de fevereiro de 2013

Cena 1. Sampa, a partir das 16 horas: trovões de acabar o mundo, semáforos apagados, bairros sem luz, caos no trânsito, muitos pontos de alagamento, gente que vai levar mais, muito mais de quatro horas para voltar para casa e infinitas mais mazelas decorrentes do temporal.

Cena 2. Enquanto isso tudo, em prisão domiciliar – não por ter cometido algum crime de colarinho branco – permitam-me não explicitar, neste momento, as causas de tal privação de liberdade – a prisioneira, enquanto ouve, pelo rádio, as notícias dos transtornos na cidade (apenas os mesmos de mais uma chuva de verão), suspira aliviada, porque a salvo de tudo, ainda que muito apreensiva por ver, pela janela, na pracinha em frente, a chuva a sacudir, quase a arrancar sua paineira bem-amada pela raiz, além de ouvir o vento a uivar, desesperadamente, já que o prediozinho onde mora fica isolado, em uma esquina, o que leva a prisioneira a se sentir um dos personagens do livro O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, mais especificamente a personagem Catherine, por sua vez prisioneira de um terrível, impossível amor (a palavra “impossível” sendo pálida demais para descrevê-lo, a esse amor).

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